ACORDAR DA CIDADE DE LISBOA, MAIS TARDE DO QUE AS OUTRAS , ACORDAR DA RUA DO OURO, ACORDAR DO ROSSIO, ÁS PORTAS DOS CAFÉS, ACORDAR E NO MEIO DE TUDO A GARE, QUE NUNCA DORME, COMO UM CORAÇÃO QUE TEM QUE PULSAR ATRAVÉS DA VIGÍLIA E DO SONO.
A MANHÃ NA CIDADE ... ( ISTO NOS ANOS 70 QUANDO EU AINDA MENINO ) A MESMA MANHÃ SIM. MAS AO CONDE BARÃO OUVEM-SE PREGÕES ALEGRES DE JORNAIS , OS GAROTOS DESCALÇOS CORREM NOS ESTRIBOS, CHEIRA A TINTA FRESCA DE IMPRESSÃO, CHEGA A PRIMEIRA LUFADA DO RIO SALGADO.
E OS ARDINAS, DIÁRIOS CANTORES DA CIDADE, CONTINUAM ENCHENDO O AR COM OS SEUS PREGÕES ENCANTADORES :
-----É O NOTÍCIAS !, OLHÁ DIÁRIO !, SÉCULO !, SÉCULO !, E, ENTÃO, A CIDADE ANIMA-SE. A DESPEITO DAS MODIFICAÇÕES QUE O PROGRESSO INSERIU, HÁ MUITA COISA INGÉNUA, ÀS VEZES TRISTE, MAS QUASE SEMPRE BONITA, QUE ENCANTA OS OLHOS. SOBRETUDO NOS BAIRROS MODESTOS. ÀS PORTAS, VEM A VENDEDEIRA DA FRUTA, A VENDEDEIRA DE FLORES, A VENDEDEIRA DA HORTALIÇA: COMO VENDERA A SUA FRESCA ALFACE E DERA O RAMO DE HORTELÃ QUE CHEIRA, VOLTANDO-SE, GRITOU-ME, PRAZENTEIRA:
« NÃO PASSA MAIS NINGUÉM !... SE ME AJUDASSE ? !... »
MAS O ENCANTO NÃO CESSA. AQUI ESTÃO AQUELAS A QUEM O POETA DISSE:
E VÓS VARINAS QUE SABEIS A SAL
E QUE TRAZEIS O MAR NO NOSSO AVENTAL.
LÁ VÃO À SUA FAINA. DAS GARGANTAS BEM TIMBRADAS SAEM BRADOS QUE PERFUMAM O DIA:
-----Ó VIVA DA COSTA !
-----PESCADA DO ALTO !
PARA LOGO SE JUNTAREM A OUTROS :
-----QUEM QUER FIGOS,
QUEM QUER ALMOÇAR ?...
-----FIGUINHOS DE CAPA ROTA !...
E, POR FIM, OS PREGÕES QUE PÕEM UM SORRISO DE ESPERANÇA NO ROSTO DOS MAIS PREOCUPADOS:
------SETE MIL SEISCENTOS E VINTE OITO!
AMANHÃ ANDA À RODA !
O QUE NUNCA VOU ESQUECER É O BARULHO DOS BARCOS E O TELINTAR DOS ELÉCTRICOS.
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