CINTRASEUPOVO

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

LENDAS



                    Lendas diversas
As lendas que falam dos deuses e da criação do homem podem, em alguns casos, serem atribuídas a uma ou outra das regiões gregas. Em sua maioria, no entanto,
devido ao fato de serem contadas e recontadas em toda a Grécia, é difícil precisar a região de origem.
As
lendas heróicas,
por outro lado, podem ser agrupadas com relativa facilidade de acordo com a região de onde provavelmente se originaram. Eis uma relação das mais importantes:
1. Lendas da Tessália:
Alceste,
Íxion e os centauros,
Peleu,
Frixo e Hele,
Argonautas,
Asclépio
2. Lendas da Beócia:
Europa, Cadmo,
Anfíon,
Héracles,
Édipo, Sete contra Tebas, Epígonos, Narciso
3. Lendas da Argólida:
Belerofonte,
Ió,
Prétides,
Danaides,
Perseu,
Átridas
4. Lendas de Atenas:
Cécrops, Filomela e Procne,
Prócris,
Teseus,
Dédalo e Ícaro
5. Regiões diversas:
Dióscuros
(Esparta), Meleagro (Etólia),
Orfeu
(Trácia).
list end
Diversas lendas orientais ou de origem obscura, além disso, foram assimiladas aos mitos gregos durante os Períodos Helenístico e Greco-Romano: Pigmalião,
Adônis, Midas, Eros e Psiquê, entre outras.


Santiago e Caio
 No ano de 44 da era de Jesus Cristo, passeava pela praia de Matosinhos um
ilustre cavaleiro da Maia, Caio Carpo Palenciano, com a sua mulher Claudina
e
vários parentes e amigos. Cavalgava o grupo pelo areal quando alguém
vislumbrou uma barca que se dirigia para norte. Os cavaleiros e as damas
pararam todos
para apreciar o ritmo e a beleza da embarcação, quando inexplicavelmente o
cavalo de Caio galopou para dentro do mar, apesar de este o tentar evitar,
como
se fosse obrigado por uma força desconhecida. Cavalo e cavaleiro imergiram
no mar e desapareceram para ressurgirem perto da barca, para onde subiram
cobertos
de vieiras. Quando perguntaram à tripulação o motivo deste fenómeno e qual a
razão da sua viagem, estes explicaram que eram discípulos cristãos de um
homem
chamado Tiago. Tinham fugido de grandes perseguições, levando o corpo do seu
Mestre para terras de Espanha, onde Tiago tinha pregado o Evangelho. Segundo
estes homens, o fenómeno ocorrido com Caio e o seu cavalo poderia ser
explicado pelo facto de ele ser um escolhido de Nosso Senhor. As vieiras
eram o sinal
de Santiago que queria ver Caio abraçar a lei de Deus. Comovido, Caio foi
ali mesmo baptizado com água do mar e, quando voltou para junto dos seus
familiares
e amigos, a todos converteu com o extraordinário feito de Santiago. As
vieiras ficaram a fazer parte do brasão da nobre família Pimentel de
Trás-os-Montes,
descendentes, segundo se crê, de Caio Carpo Palenciano.


Lenda de Pedro Sem
A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no
Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem. A história diz que
essa torre
pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D.
Afonso VI, no século XIV. Mas a lenda remete para uma data posterior, no
século
XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da
Torre. Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas
não
tinha títulos de nobreza, o que muito o afectava. Era também usurário,
emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto
vivia
rodeado de luxo. Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e
outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do
seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de
seu pai. Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos,
quando
as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro. O arrogante mercador
acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante
do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer
pobre. Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande
tempestade! Pedro
Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus.
De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio
que destruiu todos os seus bens. Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola
nas ruas, lamentando-se a quem passava: "Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que
teve tudo e agora não tem...".
Lenda de Santa Joana Princesa
A princesa D. Joana, filha do rei Afonso V, revelou desde muito tenra idade
uma grande vocação religiosa. Esta filha primogénita, apesar de ser obrigada
a viver na Corte pela sua posição, afastava-se o mais possível de festas e
convívios e passava grande parte do seu tempo a rezar e a meditar. A
princesa
era, dizia-se, muito bela e teve muitos pretendentes, entre estes muitas
cabeças coroadas, mas a todos recusou alegando a sua intenção de se tornar
freira.
Com a autorização real, entrou D. Joana para Odivelas, mudando-se mais tarde
para o Convento de Santa Clara de Coimbra, mas acabando por resolver
professar
no Convento de Jesus, em Aveiro. Esta última decisão foi contestada tanto
pelo rei como pelo povo, dado que o Convento de Jesus era muito pobre e, na
opinião
geral, indigno de uma princesa. Por outro lado, o povo discordava da vocação
da princesa e não queriam que ela professasse. Perante tanta discórdia D.
Joana decidiu não professar, mas declarou que usaria o véu de noviça para
sempre e insistiu em ingressar no Convento de Jesus, vivendo na humildade e
na
pobreza e aplicando as rendas que possuía no socorro dos pobres. A sua
caridade era tão grande que depressa ficou conhecida como santa. Mas a bela
princesa
adoeceu de peste e morreu em grande sofrimento. Quando o seu enterro passou
pelos jardins do convento deu-se um facto insólito: as flores que ela havia
tratado em vida caiam sobre o seu caixão prestando-lhe uma última homenagem.
Após este primeiro milagre, muitos outros foram atribuídos a Santa Joana
Princesa,
levando a que, duzentos anos depois, o Papa Inocêncio XII concedesse a
beatificação a esta infanta de Portugal.

SANTA IRIA
Era uma vez ... ali para os lados da Torre havia um lugar chamado de
Magueixa.
Lá viviam Emírgio e a sua mulher Eugénia Magueixa, assim apelidada por ter
nascido naquele pequeno lugar.
Como eram muito trabalhadores e económicos, juntaram uns dinheiros e
construíram uma casa a que o povo passou a chamar a Torre da Magueixa, em
lembrança
do nome da mulher do Emírgio.
Tempos depois nasceu naquela casa uma menina a quem seus pais puseram o nome
de Iria.
Passaram os anos da infância de Iria. E, um dia, os pais mandaram-na para um
recolhimento de uma terra chamada Nabância - é hoje a cidade de Tomar - onde
viviam duas tias de Iria, irmãs do pai Emírgio, que se chamavam Casta e
Júlia.
Em Nabância também vivia um outro parente de Iria, que era abade dos
religiosos de S. Bento e que recomendou Iria a um santo monge chamado
Remígio.
Iria mostrara sempre uma profunda Fé, uma devoção total, e, por isso, muito
bondosa e caridosa, começou a tornar-se notada pelos seus sentimentos
cristãos.
Tão profundamente sentia a Verdade pregada por Cristo que procurava a
clausura para melhor se sentir junto de Deus, e só saía no dia de S. Pedro
para ir
rezar na Igreja deste Apóstolo.
Por aquele tempo vivia em Nabância um jovem chamado Bristaldo, filho do
Governador, que ao ver na Igreja de S. Pedro a Iria, muito linda, muito
formosa,
se apaixonou por ela.
A paixão de Britaldo foi tão forte que adoeceu gravemente.
Iria, por inspiração divina, soube da doença do rapaz e da razão que a
provocara e, por caridade, foi visitá-lo, desenganando-o dos seus desejos de
se casar
com ela. Então Britaldo pediu a Iria que nunca casasse nem amasse a outro
rapaz, o que Iria prometeu imediatamente. Com esta promessa tão prontamente
feita,
o filho do Governador sentiu-se logo melhor.
Mas ... o bom Monge Remígio, a cujos cuidados Iria havido sido entregue,
começou a sentir-se apaixonado pela linda Iria e a tentá-la.
Iria não aceitou as tentações do Monge Remígio, o que levou este a tramar
uma vingança contra a doce e inocente Iria. E a vingança consumou-se.
O monge, que tinha muito de sábio, preparou uma beberagem com ervas, que
conhecia, e que provocou a inchação do ventre, dando a aparência de uma
falta.
Iria bebeu a tisana de boa fé. E o ventre de Iria começou a inchar, e quanto
mais os dias corriam mais ele se avolumava e mais a sua fama de Santa
desaparecia.
Todas passaram a duvidar da pureza e da virtude de Iria. Britaldo, o jovem
filho do Governador, ao saber o que constava e julgando que Iria faltara à
sua
promessa, jurou vingar-se e ordenou a um dos seus familiares que a fosse
matar.
E o familiar matou Iria, no dia 20 de Outubro de 653, degolando-a, quando
Iria, sempre pura e inocente, estava ajoelhada e de mãos postas a rezar, à
beira
do rio Nabão, que passava junto ao Convento onde estava Iria. E o corpo foi
rio abaixo.
No mesmo momento Célio, também tio de Iria, por revelação de Deus, sentiu a
trama de Remígio e conheceu o sítio onde estava o corpo de Iria. E tudo
revelou
ao povo que, cheio de dó e reconhecendo a inocência e a pureza de Iria, deu
graças a Deus e foi buscar, em solene procissão, à baixa de Santarém chamada
ribeira, o corpo de Iria.
Ali chegados deu-se o grande milagre de se abrirem as águas do Tejo, na
margem, até onde estava o corpo imaculado da Santa, sobre um túmulo feito
pelas
mãos diáfanas dos Anjos.
Era o desejo de seus conterrâneos levar o corpo de Santa Iria, mas ninguém o
pôde fazer. Ninguém o movia. Apenas lhe levaram, para recordação, alguns
cabelos
e pedaços do pano da camisa que milagrosamente serviram para tratamento de
cegos e aleijados no Convento de Santa Iria.
Muitos milagres, segundo dizem, se devem a esta Santa, que séculos mais
tarde, teve a visita de outra Santa, a Rainha Santa Isabel.
E na Torre, na terra que a viu nascer, ainda hoje existe uma capela da
invocação de Santa Iria que, segundo a tradição oral, foi construída no
mesmo sitio
onde esteve edificada a casa onde Ela nasceu.



A Princesa Zara
Era uma vez ... nos tempos já muito distantes do Rei Afonso, que do norte
vinha para o Sul, conquistando terras e mais terras que estavam na posse da
moirama,
chegou ele às proximidades de Leiria cuja terra conquistou também.
Aqui construiu um castelo rouqueiro, que entregou à guarda dos seus
guerreiros, abalando à conquista de mais terras, a construir um Portugal
maior.

Os mouros sabendo do castelo pouco guardado, voltaram e, após uma luta
porfiada, venceram os guardas do castelo e tomaram-no.

Passou a ser por essa altura, seu guardião, um velho mouro que vivia com sua
filha, uma linda moura de olhos esmeraldinos e louros cabelos entrançados,
chamada Zara.

Um dia, já o sol se escondia no horizonte sob nuvens acobreadas, a linda
moura, estava à janela do castelo voltada ao Arrabalde, a pentear os cabelos
encanecidos
de seu velho pai, quando viu ao longe uma coisa que lhe pareceu estranha,
mesmo muito estranha.

Que viu a linda princesa castelã, de olhos verdes de esmeralda?
Viu o mato a deslocar-se de um lado para o outro e também em direcção do
castelo.

Foi então que a linda princesa castelã perguntou ao seu velho pai:
"Oh! Pai, o mato anda?" Ao que o pai da linda princesa, respondeu:
"Anda, sim, minha filha, se o levam."

E o mato era levado, sim, mas pelos guerreiros cristãos do Rei Afonso, que
se escondiam atrás de paveias de mato que cortaram e ajuntaram para
avançarem
para o castelo sem serem vistos.

E avançaram, avançaram cautelosamente, até que já próximo da porta chamada
da traição, correram, passaram-na lestamente e conquistaram o castelo.

Nunca mais se soube da linda princesa de olhos verdes, nem de seu velho pai,
que era o Governador, mas, a partir desse dia, Portugal ficou maior.

O PAJEM INVEJOSO
Era uma vez ... estavam D. Dinis e sua mulher, a Rainha Santa Isabel, a
estanciar em Monte Real, o que faziam sempre que era possível.
Certo dia, foi o Rei galopar, campos fora, levando consigo um pagem que
tinha inveja de um outro pajem que era muito valoroso e estimado.

Num abrandamento da corrida que fizeram o moço fidalgo invejoso disse ao rei
que o outro pajem estava apaixonado pela Rainha.

O Rei Lavrador acreditou na palavra do seu acompanhante e vendo, donde
estavam, um forno de cozer cal a arder com enormes labaredas, imediatamente
combinou
com o forneiro de que, no dia seguinte, um pajem o iria procurar e lhe diria
que ia para cumprir as ordens do seu Rei e Senhor.

Logo que tais palavras dissesse o deitasse ao forno, pois que assim convinha
ao seu serviço.

Mas ... como o nosso bom povo diz: "o homem põe e Deus dispõe."
O Rei mandou o pajem, vítima inocente da intriga do colega invejoso, ir ter
com o forneiro.

Este pajem, porém, que além, de destemido e considerado, era um homem justo
e temente a Deus, ao passar por uma capelinha onde se dizia missa entrou e
cumpriu
os preceitos de bom religioso. E ali se demorou um bom pedaço.

O pajem invejoso, ansiando por saber se as ordens do Rei já estavam
cumpridas tão fielmente como haviam sido dadas, não teve mão na sua maldade
e meteu
a galope em direcção ao forno para saber se as ordens do Rei seu Senhor,
estavam cumpridas.

Palavras não eram ditas e o forneiro e os seus ajudantes agarraram no pajem
invejoso e ... forno com ele.

E assim morreu queimado um invejoso e intriguista.


A LENDA DA PORTA DA TRAIÇÃO
Numa noite sem luar, cercava o exército de D. Afonso Henriques a fortaleza
de Óbidos onde os mouros resistiam já há cerca de dois meses. D. Afonso
Henriques
e Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador, tinham decidido que o ataque seria
realizado na madrugada do dia seguinte antes de se retirarem para as suas
tendas.
Dormia já o Lidador quando foi acordado por uma voz de mulher que lhe pedia
para ser conduzida à tenda do rei de Portugal, pois tinha algo de importante
a comunicar-lhe. A jovem vivia no castelo dos mouros mas não sabia se era
moura porque nunca tinha conhecido os seus pais. Temendo uma cilada dos
mouros,
foi com alguma relutância que o Lidador a conduziu à presença do rei,
perante o qual a jovem revelou o sonho que se repetia há três noites. Neste
sonho,
aparecia-lhe um homem novo de barbas castanhas e olhar doce que a incumbiu
de transmitir uma mensagem para o rei de Portugal: o rei deveria reunir os
soldados
e liderá-los num ataque surpresa na parte fronteiriça do castelo, enquanto
que o Lidador se deveria dirigir com dez homens às traseiras onde a jovem
donzela
abriria uma porta para os deixar passar. O homem de olhar doce prometia
Óbidos aos cristãos e a salvação à jovem donzela. Apesar da hesitação do
Lidador,
D. Afonso Henriques já não se atrevia a duvidar dos desígnios divinos após o
Milagre de Ourique. Na manhã seguinte, Óbidos foi conquistada conforme o
sonho
da misteriosa jovem que nunca mais foi vista. A porta que franqueou a
entrada dos cristãos ficou para sempre conhecida como a Porta da Traição.

LENDA do VINHO do PORTO
No outono de 1679, um barco com um carregamento de vinho do porto
largou a cidade do Porto com destino a Londres.
O que nessa época era frequente, a meio da viagem, foi atacado por um
corsário francês a custo do qual conseguiu escapar, navegando para o
alto mar.
Acossado por violenta tempestade, afastou-se imenso da sua rota pelo
que o capitão tomou a decisão de ir fundear em S. João da Terra Nova
para reabastecimento e repouso da tripulação.
Impossibilitados de prosseguir viagem devido ao rigor do inverno, só
na primavera seguinte se fizeram de novo ao mar. Finalmente, chegados
a Londres, constataram, com natural espanto, que a prolongada estadia
na Terra Nova tinha dado ao vinho um aroma e um sabor agradavelmente
diferentes.
Desde então, a companhia proprietária do carregamento passou a enviar
anualmente grandes quantidades de vinho para envelhecer na Terra Nova.
Assim surgiu este celebrado porto e esta espantosa lenda perpectuada
nos rótulos das garrafas dos portos Newman's


Lenda da Nossa Senhora de Vagos
A pouco mais de um quilómetro da vila de Vagos, situada num local campestre,
pitoresco e aprazível, convidativo à oração, fica a ermida de Nossa Senhora
de Vagos cheia de história e tradição. Consta que antes do actual santuário,
existiu outro a dois quilómetros deste de que há apenas vestígios de uma
parede
bastante alta, denominada «Paredes da Torre», cercada presentemente por
densa floresta mas de fácil acesso. Tradições antigas com várias lendas à
mistura,
dizem que perto da praia da Vagueira naufragou um navio francês dentro do
qual havia uma imagem de Nossa Senhora que a tripulação conseguiu salvar e
esconder
debaixo de arbustos que na altura rareavam no areal.
Dirigindo-se para Esgueira, freguesia mais próxima, a tripulação contou o
sucedido ao Pároco que acompanhado por muitos fiéis, veio ao local onde
tinham
colocado a imagem, mas nada encontrou. Dizem uns que Nossa Senhora apareceu
a um lavrador indicando-lhe o sítio onde se encontrava o qual aí mandou
construir
uma ermida; dizem outras que apareceu em sonhos a D. Sancho primeiro quando
se encontrava em Viseu que dirigindo-se ao local e tendo encontrado a
imagem,
mandou construir uma capela e uma torre militar a fim de defender os
peregrinos dos piratas que constantemente assaltavam aquela praia. Mas
parece que
a primeira ermida e o culto da Nossa Senhora de Vagos datam do século doze.
O que fez espalhar a devoção a Nossa Senhora de Vagos foram os milagres que
se lhe atribuem. Entre eles consta a cura de um leproso, Estevão Coelho,
fidalgo dos arredores da Serra da Estrela que veio até ao Santuário. Ao
sentir-se
curado além de lhe doar grande parte das suas terras, ficou a viver na
ermida, vindo a falecer em 1515. É deste Estevão Coelho, que conta a lenda
ter quatro
vezes a imagem de Nossa Senhora de Vagos, sido trazida para a sua nova
Capela, quando das ruínas da Capela antiga (Paredes da Torre), e quatro
vezes se
ter ela ausentado misteriosamente para a Capela primitiva. Só à quarta vez
se reparou que não tinham sido transferidos os ossos de Estêvão Coelho, e
que
as retiradas que a Senhora fazia eram nascidas de querer acompanhar o seu
devoto servo que na sua primeira Ermida estava sepultado; trasladados os
ossos
daquele, logo ficou a Senhora sossegada e satisfeita. Supõe-se que ainda
hoje, à entrada do Templo existe uma pedra com o nome de Estêvão Coelho.
Outro grande milagre teve como cenário os campos de Cantanhede completamente
áridos e impróprios para a cultura devido a uma seca que se prolongava há
mais
de quatro anos. A miséria e a fome alastrou de tal maneira por aquela região
que todo o povo no auge do deserto elevava preces ao Céu, para que a chuva
caísse. Até que indo em procissão à Senhora da Varziela, ouviram um sino
tocar para os lados do Mar de Vagos. Toda a gente tomou esse rumo. Chegados
à
Ermida de Nossa Senhora de Vagos, suplicaram a Deus que derramasse sobre as
suas terras a tão desejada chuva o que de facto sucedeu. Em face de tão
grandioso
milagre, fizeram ali mesmo um voto de se deslocarem àquele local de
peregrinação, distribuindo ao mesmo tempo as pobres esmolas, dinheiro,
géneros, etc.
... Ainda hoje essa tradição se mantém numa manifestação de Fé e Amor. Ainda
hoje o pão de Cantanhede continua a ser distribuído em grande quantidade no
largo da Nossa Senhora de Vagos.
Perto do actual santuário que pelas lápides sepulcrais aí existentes, remota
ao século dezassete, construíram-se umas habitações onde de vez em quando se
recolhiam em oração os Condes de Cantanhede e os Srs. de Vila
Verde.
Lenda da Serra do Nó
A lenda do Castelo da Serra do Nó, perto de Viana de Castelo, é do
tempo em que os mouros dominavam aquela região sob o comando de
Abakir, que tinha fama de conquistador de terras e de mulheres. O seu
castelo, mesmo no topo da serra do Nó, era dos mais ricos do mundo,
dizia-se. Um dia, quando regressava a casa após mais uma batalha bem
sucedida, Abakir viu uma linda pastora por quem se apaixonou
imediatamente. No dia seguinte, habituado que estava a que nada nem
ninguém lhe resistisse, o rei mouro mandou que a trouxessem à sua
presença e disse-lhe que queria que ela ficasse ali a viver com ele
para sempre. Conhecendo a reputação de Abakir, a jovem pastora assumiu
o porte altivo de uma princesa e tudo recusou. Abakir enfureceu-se e
mandou-a prender na torre do castelo até que a jovem pastora lhe
pedisse perdão por ter ousado afrontá-lo com uma recusa. Mas ela nunca
o fez e, um dia, Abakir cedeu e ofereceu-lhe o seu amor incondicional.
A pastora então disse-lhe que o aceitaria sob a condição de Abakir se
afastar de todas as outras mulheres e nunca mais pensasse noutra que
não ela. Abakir prometeu e a bela pastora entregou-se-lhe naquela
noite. Viveram felizes até que um dia a ameaça dos exércitos cristãos
se fez sentir. Abakir reuniu os seus súbditos e aconselhou-os a fugir.
Informou-os ainda que ficaria sozinho no castelo até ao fim e a única
voz que se fez sentir foi a da linda pastora que afirmou que ficaria
também. Abakir sorriu. Não esperava outra coisa da sua princesa.
Sozinhos no castelo viveram ainda algum tempo felizes, aproveitando os
últimos momentos de um grande amor. Quando se ouviam já os gritos de
vitória dos cristãos, Abakir abraçou a sua amada, pegou no Corão,
sussurrou umas palavras misteriosas e fez um sinal mágico com a mão.
Quando os cristãos chegaram à Serra do Nó, o castelo tinha
desaparecido. A tradição diz que quem conseguir descobrir a entrada do
castelo encantado através de uma gruta ficará possuidor de
maravilhosas riquezas! Abakir e a pastora ainda podem ser vistos em
noites de luar, vagueando pela serra, aparecendo àqueles que ousam
tentar descobrir o mistério do castelo encantado!
Lenda do Milagre de Ourique
A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa,
pois conta-se que foi nela que D. Afonso Henriques foi pela primeira vez
aclamado
rei de Portugal, em 25 de Julho de 1139. Foi no campo de Ourique que se
defrontaram o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz,
Elvas,
Évora e Beja e os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península. A lenda
conta que um pouco antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um
velho homem que o rei já tinha visto em sonhos e que lhe fez uma revelação
profética de vitória. Contou-lhe ainda que "sem dúvida Ele pôs sobre vós e
sobre
a vossa geração os olhos da Sua Misericórdia, até à décima sexta
descendência, na qual se diminuirá a sucessão. Mas nela, assim diminuída,
Ele tornará
a pôr os olhos e verá." O rei deveria ainda, na noite seguinte, sair do
acampamento sozinho logo que ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia,
o que
aconteceu. O rei foi surpreendido por um raio de luz que progressivamente
iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir aos poucos o Sinal da Cruz
e Jesus Cristo crucificado. O rei emocionado ajoelhou-se e ouviu a voz do
Senhor que lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas: por
intermédio
do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria o Seu império através do qual
o Seu Nome seria levado às nações mais estranhas e que teria para o povo
português
grandes desígnios e tarefas. D. Afonso Henriques voltou confiante para o
acampamento e, no dia seguinte, perante a coragem dos portugueses os mouros
fugiram,
sendo perseguidos e completamente dizimados. Conforme reza a lenda, D.
Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco
escudos
ou quinas em cruz representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de
cristo, carregadas com os trinta dinheiros de Judas.
A Morte do Lidador Num dia longínquo de 1170, Gonçalo Mendes da Maia,
nomeado Lidador pelas muitas batalhas travadas e ganhas contra os Mouros,
decidiu
celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar. Da cidade
de Beja saiu o Lidador naquela manhã com trinta cavaleiros fidalgos e
trezentos
homens de armas, sabendo de antemão que o exército de Almoleimar era muitas
vezes superior. Perto do meio-dia, pararam os cavaleiros para descansar
perto
de um bosque onde emboscados aguardavam os mouros. A primeira seta feriu de
morte um guerreiro português, o que fez com que o exército cristão se
pusesse
em guarda. Frente a frente se mediam a destreza e perícia árabes, invocando
Allah, e a rudeza e força cristãs, clamando por Santiago. A batalha começou
e ambos os exércitos se debateram com coragem, até que num dado momento
Gonçalo Mendes e Almoleimar cruzaram espadas em cima dos seus cavalos. Um
dos vários
golpes desferidos atingiu Gonçalo Mendes que, mesmo ferido, atacou com raiva
Almoleimar, que ripostou. O resultado foram dois golpes fatais, um dos quais
matou o mouro e outro que deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte. O
Lidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que debandavam em
fuga
até que o esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe lhe agravou os
ferimentos. O Lidador caiu morto na terra juncada de mais de mil corpos
inimigos.
Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta
última vitória do Lidador. Um sacerdote templário disse em voz baixa as
palavras
do Livro da Sabedoria: "As almas dos justos estão na mão de Deus e não os
afligirá o tormento da morte".
AMOR E CEGOVIM
Era uma vez ... fazia o Senhor Rei D. Dinis e a sua Santa mulher, a Rainha
Isabel, uma mais demorada pousada em Leiria, talvez para descansar dos
muitos afazeres do seu alto cargo.
Um dia, o Rei passeando no seu fogoso corcel, galopou, galopou, campos fora,
e, lá longe, num pequeno lugar vê uma camponesa formosa como nenhuma outra
se vira ainda em muitas léguas ao derredor.
Apaixonou-se o Rei pela camponesa e ali, naquele lugar, no meio do campo
florido de papoilas e malmequeres, nasceu naquele dia um grande amor.
As visitas do Rei ao seu grande amor continuaram e tornaram-se conhecidas
nas redondezas, e, àquele lugar começaram a chamar Amor.
Também a Rainha soube dos novos amores do seu marido e Rei e, para lhe
mostrar a sua reprovação sem o melindrar, mandou uma noite alumiar o caminho
por onde o Rei, seu esposo, deveria regressar a Leiria.
D. Dinis, ao dar com as veredas, por onde voltava, com grande alumiação, de
muitos fogachos, viu estar ali uma muda intenção crítica da Rainha, e
exclamou:
"Até aqui cego vim!"
E o sitio onde começavam as iluminarias passou a chamar-se "Cegovim", que,
por uma natural corruptela popular se chama hoje Cegodim.

Lenda dos Tripeiros
TRIPEIRA
Os estaleiros do porto construiam naus para uma encomenda do reino mas que para a qual se desconhecia a destinação, assim corriam muitos boatos sobre a utilização futura desta frota, foi mesmo questão de ser utilizada para o casamento dos princepes do reino. Certo dia, o Infante D. Henrique veio ao Porto para ver o avançamento da construção naval dos barcos .
O Infante visitou os estaleiros e apreciou o trabalho que ai se fazia , confiando no mestre encarregado das obras "mestre Vaz", disse-lhe que essas embarcações se destinavam à conquista de Ceuta, para isso lhe pedia de guardar segredo e de motivar os homens a mais empenho e sacrificios a fim de levar a bem essa obra.
O mestre Vaz assegurou-lhe que faria tudo que fosse possivel e faria mesmo a mesma coisa que fizeram anos a tras, quando as guerras com Castela: o povo do porto, Comeram so tripas para poderem dar a carne aos soldados que combatiam os castelhanos. Por este sacrificio as gentes do Porto eram mesmo conhecidos pela alcunha de "tripeiros".
O Infante D. Henrique ficou tão impressionado e emocionado pelo gesto que honrava este povo, e disse que esse nome de "tripeiros" entraria à historia de Portugal como um sacrificio heroico e invulgar do povo do Porto.


Dos estaleiros dos " tripeiros" do Porto, sairam 20 naus e 7 galés que participaram a grande frota do Infante D. Henrique , que conquistaram Ceuta.


Lenda do Milagre das Rosas

A rainha Isabel de Aragão esposa de D.Dinis, era uma rainha que se preocupava dos pobres e necessitosos do reino, era lendaria a sua bondade e espalhava a caridade pelo reino.
Um nobre preocupado com as depesas da rainha nas suas obras de caridade e obras de igrejas, informou o rei desta ma gestão dos dinheiros da coroa.
Assim o rei decidiu proibir a rainha de voltar a fazer tais despezas e de não se ocupar mais da miséria do reino .
O reino mais uma vez avisado por alma cuidadosa que suas ordens não foram respeitadas, resolveu surpreender a rainha numa manhã em que esta se dirigia às obras de Santa Clara a onde fazia distribuição habitual de esmolas, e reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço. Interrogada por D. Dinis, a rainha informou que ia ornamentar os altares do mosteiro.
O rei insistiu que tinha sido informado que a rainha tinha desobedecido às suas proibições, levando dinheiro aos pobres.
De repente e mais confiante D. Isabel respondeu: "Enganais-vos, Real Senhor. O que levo no meu regaço são rosas..." O rei irritado acusou-a de estar a mentir: como poderia ela ter rosas em Janeiro? Obrigou-a, então, a revelar o conteúdo do regaço.
A rainha Isabel mostrou perante os olhos espantados de todos o belíssimo ramo de rosas que guardava sob o manto.
O rei ficou sem palavras, convencido que estava perante um fenómeno sobrenatural e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu na sua intenção de ir levar as esmolas.
A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.


Lenda do galo de Barcelos
Diz a lenda:
Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém o acreditou. Ninguém julgava crível que o galego se dirigisse a S. Tiago de Compostela em cumprimento duma promessa; que fosse fervoroso devoto do santo que em Compostela se venerava, assim como de São Paulo e de Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca.
Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos.
O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:
- É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.
Risos e comentários não se fizeram esperar, mas pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo.
O que parecia impossível, tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Já ninguém duvidava das afirmações de inocência do condenado.
O juiz corre à forca e com espanto vê o pobre homem de corda ao pescoço, mas o nó lasso, impedindo o estrangulamento. Imediatamente solto, foi mandado em paz.
Passados anos, voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor à Virgem e a São Tiago.


A LENDA DA TORRE DOS NAMORADOS
Conta-se que há muito tempo atrás, no local que hoje é conhecido como o centro da Torre dos Namorados existia uma cidade muito povoada, onde abundava a prosperidade e a felicidade. A cidade era governada por um rei muito consciente dos seus deveres para com os súbditos. Era dotado de um sentido de justiça apuradíssimo e revelava uma moral inabalável e incorrupta. Muito estimado pela população, para este governante, a palavra tinha um valor insubstituível e, dizia-se na altura, "antes preferia morrer que vergar". Tinha o rei uma filha casadoira que fazia suspirar de paixão os mancebos da cidade com sua beleza sem igual. Ousadia para pedir ao rei a mão da princesa faltava a quase todos os jovens apaixonados. O seu perfil de monarca rígido e moralista fazia adivinhar que não teria escrúpulos em mandar para a forca quem se atrevesse a cometer a mais pequena indelicadeza ou ousasse falar-lhe sequer na mão da real filha.
Tempos passaram e a beleza da princesa cada vez era maior. Cabelos de ouro e face que parecia irradiar a luz do sol, caracterizavam a sua beleza única. Certa tarde de Primavera, dois jovens mais ousados e bêbados de paixão dirigem-se corajosamente ao palácio real para falarem com sua majestade a fim de obterem consentimento para casarem com a jovem princesa. O rei recebeu-os com dignidade respeitando os seus sentimentos de puro amor. Obviamente, a sua filha era única e apenas um podia ser o eleito. Como monarca justo que era e, tendo a mesma consideração e estima pelo carácter e amor sincero dos seus dois jovens súbditos, falou-lhes nos seguintes termos: «- Meus caros jovens: não tenho qualquer dúvida que qualquer um de vós ama perdidamente a princesa e poderá vir a ser um excelente marido para a minha filha e um melhor pai para os meus netos e sucessores. Contudo a minha filha, a quem venero com todo o meu coração, é única e vós sois dois pretendentes. Se der a sua mão a um de vós estarei a ser injusto. Entretanto a cidade está a ficar com problemas de abastecimento de água à população que não pára de crescer. Por outro lado, o palácio não tem uma torre sólida e funcional que nos possa por a salvo em caso de um ataque imprevisível dos nossos inimigos. Eis as tarefas que vos proponho: um de vós deve iniciar a construção de um aqueduto suficientemente eficaz e sofisticado que resolva os problemas de abastecimento de água à cidade. O outro deve empenhar-se na construção de uma torre tão sólida e funcional que este reino nada venha a recear em caso de ataque e cerco pelos nossos inimigos. Começai os trabalhos amanhã ao alvorecer. O primeiro que acabe a tarefa que lhe destino terá a honra de casar com a minha filha. Agora ide e que ganhe o melhor!».

Posta a situação nestes termos, deram os jovens por bem empregue o tempo e a coragem de que dispuseram para se dirigir ao palácio real a pedir ao rei a mão da filha e, no dia seguinte, puseram mãos à obra. Passaram-se meses. As obras de um e outro empreendimento avançavam com rapidez e em breve se concluiriam.

No dia em que terminaram era grande a excitação, quer da corte, quer da população da cidade. Todos se dirigiram ao centro da cidade para verificarem qual dos dois mancebos iria desposar a jovem princesa. Mas o dia, que nascera cinzento, pouco haveria de clarificar. Exactamente ao mesmo tempo em que um jovem colocava a bica na fonte principal de abastecimento da cidade que a partir daí não mais pararia de jorrar, o outro acabava de colocar a última peça de ouro no pináculo de uma espectacular e sólida torre capaz de defender a cidade dos maiores ataques inimigos. Continuava por apurar o noivo da bela princesa. O rei estava estupefacto e a sua face ficou pálida de amargura. Não poderia cumprir o prometido. A população decidiu que os dois jovens deviam bater-se num duelo de espadas e o que ficasse sem se ferir casaria com a jovem. Assim fizeram, mas as espadas quebraram-se ficando os jovens sem uma única beliscadura.

Decididamente parecia que a princesa teria de permanecer solteira e o rei sem poder cumprir o prometido. Facto grave e intolerável para o monarca. É que ninguém como ele tomava à letra a sentença: "palavra de rei não volta atrás".
Foi então que, como um trovão, se ouviram as seguintes palavras doídas que saíram da boca do rei: “- Torre feita, água à porta; filha de el-rei morta!”

A princesa logo percebeu que nunca seria rainha pois estava condenada à morte pela dureza da sentença de seu próprio pai, montou um cavalo e fugiu em direcção ao Sul. De pouco lhe valeu. Rapidamente foi capturada pelos soldados do rei que aí mesmo, cumprindo ordens, a mataram.


A Lenda de São Martinho
A lenda diz que num dia de chuva e frio do mês de outubro, um soldado frances que servira nas legiões romanas em fim de missão regressava à sua terra natal em França.
Quando atravessava as montanhas dos Alpes encontrou um mendigo esfomeado, mal agasalhado e gelado de frio que lhe estendeu a mão lhe pedindo esmola.
São Martinho não tendo nada para lhe dar em esmola desceu do seu cavalo, retirou o seu manto vermelho que lhe servia de protecção contra a chuva e o frio . De um golpe de espada cortou pelo meio o manto e deu uma das metades ao mendigo.

Imediatamente a chuva parou de cair , as nuvens afastaram-se e o sol apareceu como por milagre , radioso e quente como num dia de verão.

Seria Deus que lhe teria enviado esse tempo magnifico em recompensa da sua bondade.

São Martinho, também conhecido por S. Martinho de Tours, cidade onde foi bispo, nasceu em Panónia, na Hungria, em 316 ou 317. Filho de um oficial romano, fez estudos humanísticos em Pavia. Iniciou depois a carreira das armas, mas manifestou desde cedo o desejo de ser monge. No entanto, serviu na guarda imperial até aos 40 anos, idade em que abandonou a vida castrense, tendo ido ao encontro de Santo Hilário, bispo de Poitiers, que lhe conferiu ordens sacras e lhe deu a oportunidade de entrar na vida religiosa. A sua intensa actividade pastoral valeu-lhe o epíteto de Apóstolo das Gálias. Já bispo de Tours, vivia como um monge, fora da cidade, num local modesto, mais tarde transformado num mosteiro. Terá morrido em Candes (França), em 11 de Novembro de 397.

Lenda De Um Amor Proibido
Era uma vez uma princesa que vivia num lindo palacio , cheio de belos jardins com belas flores e relvados verdejantes. Ela passava o tempo a escutar os passarinhos e a cheirar as rosas, flores que tinham a sua preferencia. Era rica e tinha tudo não lhe faltava nada , lindos vestidos joias raras mas faltava-lhe algo, como se no seu jardim faltasse um raio de sol , ou uma brisa ou uma estrela , algo que não se vê mas que se sente, algo que lhe dê vontade de rire e de cantar.

O problema da princesa era a falta de felicidade , pois era a unica coisas que lhe faltava no seu jardin .

Assim um dia passou por la um princepe aventureiro, vendo a beleza da princesa ficou louco de paixão . Todos os dias à mesma hora e mesmo lugar o princepe vinha falar a princesa que acabou por ficar apaixonada pelo princepe , os dois se encontravam e se amavam as escondidas do rei.

A princesa mudou , os seus olhos brilhavam de mil luzes ,os passarinhos cantavam melodias alegres e encantadoras as suas rosas exaltavam perfumes suaves e incomparaveis, a princesa encontrou o que lhe faltava .... a felecidade .

Certo dia o rei seu pai para selar um acordo diplomatico com um reino vizinho que para o qual algumas discordias os lançava em guerras e escaramuças, decidiu de a prometer em casamento com o princepe do reino vizinho. Esta ideia não agradou à princesa , mas como continuava a ver o seu princepe aventureiro nem pensava nesse casamento.

Como em todas as historias de paixões ha sempre alguem bem cuidadoso , o rei foi informado da razão da felecidade da princesa.

Este com medo que o seu projecto de paz fosse anulado, decidiu de por termo a estes encontros. Sem que a princesa o saiba, ele decidiu de ir ver um mago que habitava no reino para que resolvesse este problema.

O mago era muito potente e deitou um a maldição a este casal de amorosos , que a partir de aquele momento os seus amores se tranformassem em odios se jamais eles se encontrassem. Alguem escutou a conversa entre o rei e o mago e divulgou a novidade que chegou ao conhecimento do cavaleiro apaixonado , que deixou de ir visitar a princesa.

Assim o tempo foi passando , a princesa cheia de tristeza por não voltar a ver o seu amor casou com o princepe prometido , deu-lhe o corpo mas o coração esse deixou-o ao cavaleiro aventureiro.

Pelas florestas a volta do palacio ,errava o cavaleiro banido , ele espreitava de longe a sua amada mas sem nunca se aproximar pois conhecia a maldição que lhes foi lançada. E o medo de poder um dia odiar quem tanto ele amava o terrorizava.

Não podendo mais viver esta situação , o cavaleiro decidiu de se entregar aos braços da morte , porem deixou um pedido : que o seu coração lhe fosse retirado do corpo e queimado para quebrar a maldição.

Tanto se falou na morte do cavaleiro aventureiro no reino que a princesa acabou por ter conhecimento do sucedido . Ficou de uma tal tristeza que adoeceu e ao fim de alguns meses faleceu deixando como ultimo pedido, que lhe fosse retirado o coração do corpo e lançado ao fogo no lugar mesmo onde foi queimado o coração do seu amado.

Os anjos contam ainda hoje aquela historia , dois corações que mesmo fora dos peitos ardem de amor para a eternidade.

A partir desse dia esses corações protegem os amores proibidos , talvez que sabe que um dia estes dois ardam por nos.............................


O Casamento Da Vassoura


Ali guardadinha estava a vassoura num cantinho do armário. Às vezes a tiravam e dançava muito pela casa ou quintal, ficando até tonta de tanto ir pra lá e pra cá. Mas depois ficava no cantinho até tristonha mesmo. Um dia, porém, ouviu uma vozinha que a chamava:

- Dona Vassoura, oh dona vassoura está me ouvindo?

- Sou eu, a dona Pazinha aqui do outro lado.

- Sim, estou ouvindo - disse a Vassoura até meio assustada.

- Tenho um recado para a senhora, do senhor Rodo.

- De quem?

- É do senhor Rodo.

- Ele mandou lhe dizer que gostaria de casar com a senhora!

- O que devo responder a ele?

- Ora - disse a Vassoura, pega de surpresa - Eu casar com o senhor Rodo?

- É sim. Pense e depois me dê a resposta, é só me chamar.

Dona Vassoura ficou inquieta, pensou, pensou...

 Sozinha aqui pelo menos vou ter um companheiro, nada tenho a perder, até que ele é bem simpático pois já o vi algumas vezes brincando na água.

Mais tarde a noitinha dona Vassoura chamou dona Pazinha e disse-lhe:

- Bem diga a ele que aceito, mas como será o que vamos fazer?

- Não se preocupe nós vamos arranjar tudo para o casamento.

E assim foi.

Fizeram, primeiro, a lista dos padrinhos e convidados.

- Ouça dona Vassoura, os padrinhos de seu casamento serão: o senhor Balde e eu. As daminhas serão as Flanelinhas que estão todas felizes pelo evento.

- O senhor Papel Higiênico ficou de enfeitá-la e fará uma grinalda bem linda, ele prometeu.

- O ambiente será todo perfumado pois, os Senhores Desinfetantes se incumbirão de fazê-lo. - No mais, todos os outros moradores deste armário vão contribuir. Os senhores Panos de Chão, os Tapetes, até o Sr Desentupidor irá colaborar.

- Pelo jeito já está tudo combinado, não é mesmo dona Pazinha?

- É sim. Vamos marcar para a próxima noite, certo?

- Sim, combinado.

A noite veio e o casamento foi realizado com muita simplicidade. Dona vassoura toda enfeitada. O noivo, Senhor Rodo, com a ajuda do Senhor Pano de Chão, estava muito bem enrolado, muito elegante.

Os convidados estavam felizes e a festa foi até de madrugada.

No dia seguinte, quando foi aberto o armário, estava tudo diferente!

- O que aconteceu aqui? Pensou a dona da casa...

A vassoura toda enfeitada de papel higiênico, o rodo fora do lugar...

Fechou a porta do armário e esqueceu o assunto, mas que era estranho era...

Lá dentro os convidados começavam acordar da festa de ontem, ou seja, do casamento da Vassoura...


Lenda Cabo da Roca
Conta a lenda, que perto do Cabo da Roca, desapareceu de casa de sua mãe, um menino, cuja idade rondava os cinco anos, sem que sua triste mãe pudesse saber onde ele estava. Já o presumia caído de alto penhasco abaixo no mar, e afogado. Já o deplorava morto. Mas a verdade era outra. Umas bruxas o tinham tirado de sua casa e lançaram-no num despenhadeiro num monte sobre o mar.

Aos choros que o menino dava, acudiram uns pastores de gado que rapidamente deram a noticia à vila. De lá saíram muitos aldeões com a desconsolada mãe para socorrerem o pobre menino.

Para o tirarem do buraco que parecia de fundo inacessível foi uma tarefa complicada, mas rapidamente o conseguiram. Todos alegres por o verem são e salvo logo a mãe lhe perguntou quem o tinha posto ali; e quem lhe dera de comer durante tanto tempo. O menino explicou que tinham sido umas mulheres que o tinham trazido pelo ar e o tinham atirado para a tal cova, porém, disse que uma senhora, muito formosa, todos os dias lhe levava umas sopinhas de cravos para ele comer.

Depois da história explicada e tudo estar resolvido, toda a aldeia mais a mãe e o menino dirigiram-se à igreja para agradecer a Nossa Senhora tudo ter acabado em bem. Ao entrar na igreja e vendo a Senhora no altar o menino disse com estas formais palavras: "Ó mãe, eis ali a senhora que todos os dias me dava as sopinhas de cravo para eu comer". Este menino chamava-se José Gomes, mas foi sua alcunha que ficou conhecida na praça de Cascais, Chapinheiro.



Palácio da Pena
No Palácio Nacional de Sintra existe uma sala cujo o tecto esta pintado com diversos desenhos de pegas.
Diz-se que o rei e a rainha que lá viviam nessa época fizeram casar mais de um cento de mulheres, entrando na conta as que ele próprio casou também, seguindo tão bons exemplos. Não havia uma ligação ilícita, nem um adultério conhecido. A corte era uma escola. D. Filipa, pregando ao peito o seu véu de esposa casta, com os olhos levantados ao céu, não perdoava. Terrível, na sua mansidão, trazia o marido sobre espinhos
Certo dia, segundo reza a lenda, em Sintra, o rei esqueceu-se, e furtivamente pregava um beijo na face de uma das aias, quando apareceu logo, acusadora e grave, sem uma palavra, mas com um ar medonho, a rainha casta e loura. D. João, enfiado, titubeando, disse-lhe uma tolice: "Foi por bem!!!". A rainha saiu solenemente. Eram ciúmes? Não, ciúmes só sente quem está apaixonado, e não era o caso. Apenas sentia o seu orgulho ferido.

Rapidamente a notícia se espalhou pelo palácio, e toda a criadagem andava com a frase "Foi por bem" na boca. Chateado com a situação, o rei decidiu tomar uma iniciativa, mandou construir uma sala para a criadagem. Todos ficaram radiantes e contando os dias que faltavam para a sala estar pronta.

Finalmente chegou o dia, iam conhecer a sala. Qual não foi o espanto de todos ao verem que o tecto de tal sala estava todo pintado com pegas, que tinham escrito no bico "Pour Bien". (traduza-se por bem).

Esse palácio nacional é rodeado de jardins, um deles é o jardim da Lindaria.

Reza a lenda que esse jardim era o local onde as mouras vinham, ao sair do banho, respirar a frescura do ar e o perfume embalsamado das flores. Uma dessas mouras enfeitiçou-se de amores por um cristão que ali escondido as observava. Seu marido, ao descobrir, matou-a. E dizem que ainda hoje, todas as noites a moura volta ao jardim em busca do cristão por quem se apaixonou.


Lenda Convento de Santa Cruz ou dos Capuchos
Um dos habitantes do Convento de Santa Cruz ou dos Capuchos, foi Frei Honório, homem de muita fé e de grandes virtudes. Muito estimado e respeitado dos habitantes daquelas redondezas, ali viveu durante 30 anos, sofrendo dolorosa e resignada penitência. Seu corpo jaz na Igreja daquele curioso convento. Diz-se que certa vez, Frei Honório encontrou pelos campos uma linda rapariga, "para quem não olhou", mas que o forçou a fazer algo. Exigia-lhe que a confessasse. O virtuoso monge, naquele ermo não tinha confessionário, e sem querer fixar a pequena, mandou-a para o convento em procura de outro confessor. A bela de moçoila não se conformou com a resposta e insistiu ao mesmo tempo com o bom religioso.

Rubro como um tomate, a suar em bico – isto passou-se em Agosto- apressou o passo, sempre seguido daquela que lhe pedia a absolvição ou penitência, até que, voltando-se e tapando o rosto com uma das mãos para fugir à formosura que o diabo encarnara para o tentar e perder, com a outra fez o sinal da cruz, a que a endiabrada e tentadora, respondeu com um grito, fugindo para não mais ser vista.

Então, Frei Honório, por castigo por ter caído em tentação, isolou-se a pão e água numa gruta existente no Convento. E lá ficou até ao fim da sua vida.


Palácio Seteais
Seteais é um dos mais belos recantos da serra de Sintra.
Conta a lenda que quando Sintra ainda pertencia aos mouros, um dos primeiros cavaleiros cristãos a subir a serra de Xentra (como os mouros chamavam a Sintra) foi D. Mendo de Paiva. No meio da confusão da debandada de uns e chegada de outros, encontrou-se junto a uma pequena porta secreta por onde fugiram vários mouros da fortaleza. Entre eles viu uma moura muito bonita, acompanhada pela velha aia.
Ao dar com os olhos no cristão, a moura suspirou por se sentir descoberta, e a velha, que ainda não reparara no cavaleiro, apressou-se a pedir-lhe que não suspirasse. Porém, reparando no olhar da ama, fixo num ponto determinado, seguiu-o e viu finalmente o inimigo, que sorridente lhe disse:

- Acaba o que ias dizendo!

Mas a velha, de sobrolho carregado, respondeu-lhe:

- O que tenho para dizer não serve para ouvires, cáfir! Os cristãos já têm tudo quanto queriam:
os nossos bens, as nossas terras, o castelo. Vai-te! Vai-te e deixa-nos em paz, conforme o combinado.

- Vai-te tu, velha! A rapariga é minha prisioneira!

A moura, ao ouvir tal coisa, suspirou novamente, de medo e comoção. A velha, ao ouvir aquele novo ai, achou que era melhor confessar o seu segredo ao cristão:

- Não digas mais nada, cristão! Não digas mais nada, que a minha ama carrega desde o berço uma terrível maldição!...

- Como assim velha?!- perguntou o cavaleiro, ao mesmo tempo que a moura dava o terceiro suspiro.

- Ah, cavaleiro! À nascença a minha ama foi amaldiçoada por uma feiticeira que odiava a sua mãe por lhe ter roubado o homem que amava. Fadou-a a morrer no dia em que desse sete ais... e como vês, já deu três!

D. Mendo deu uma alegre gargalhada, e a jovem outro ai.

- Não acredito nessas coisas, velha! Olha, a partir de agora ambas ficarão à minha guarda. Eu quero para mim a tua bela ama!

A moura suspirou de novo e a velha, numa aflição sem limites, gritou:

- Ouviste, cavaleiro, ouviste?! É o quinto ai! Que Alá lhe possa valer!

- Não tenhas medo! Espera aqui um pouco... Voltarei para vos levar a um sítio sossegado!

O cristão afastou-se rapidamente e, assim que desapareceu dentro das muralhas, um grupo de mouros que ouvira a conversa surgiu subitamente para roubar as duas mulheres. Com um golpe de adaga cortaram a cabeça à velha, que nem teve tempo de dar um ai. A jovem é que, ao ver a sua velha aia morrer daquele modo inesperado e cruel, soltou um novo e dolorido ai. Era o sexto, e o sétimo foi a última coisa que disse, no momento em que viu a adaga voltear para lhe cair sobre o pescoço.
Quando pouco depois D. Mendo voltou com uma escolta, ficou tristemente espantado: afinal cumprira-se a maldição!
D. Mendo jurou vingança e a partir desse dia tornou-se o cristão mais desapiedado que os mouros jamais encontraram no seu caminho.
E, em memória da moura que desejara e uma maldição matara, chamou, àquele recanto de Sintra, Seteais.
Ainda hoje, nos belos jardins de Seteais há um sítio onde se alguém disser um "ai" ouvirá um eco que o repetirá seis vezes, ouvindo-se assim sete ais em honra da mouro que um dia lá morreu.



Lenda Monte da Lua
Antigamente, a Serra de Sintra era conhecida pelo nome de Promontório Magno, ou da Lua, e é fora de dúvida que no tempo da dominação romana os povos, que habitavam nesta serra, edificaram ali um templo, que primeiramente quiseram dedicar ao imperador Octaviano Augusto II, e que por este não consentir, o consagraram à Lua; como chamassem a este planeta Cinthia pois, se derivou com pouca corrupção o nome de Sintra. Estas memórias históricas acham-se confirmadas por vários cipos e outras pedras com inscrições, que se descobriram na mesma serra, e que se podem ver nas obras dos antiquários.

Lenda de Monserrate
Diz a tradição que nos tempos de domínio árabe morou naquele sítio, no alto da Penha, um moço árabe ou fidalgo cristão, que tinha grande predomínio com todas as famílias cristãs que habitavam a serra.
Esse moço árabe andava em rixa velha com o alcaide do castelo de Sintra, resultando dessa discórdia este vir desafiá-lo a um duelo. Deste duelo resultou a morte do moço árabe que ficou estendido no chão. Logo foi tido em conta por toda a gente como mártir, ao qual levantaram um túmulo e depois uma capelinha de oração.
Esta pequena ermida com o tempo ruiu, sendo em 1500 substituída por outra, edificada pelo padre Gaspar Preto, sob a invocação de Nossa Senhora de Monserrate, tendo vindo de Roma a imagem da Virgem, feita de alabastro.

Lenda Túmulo dos dois Irmãos
Era linda, a rapariga, olhos de moura encantada, que não fugira às hostes do rei conquistador e ali ficara, a enfeitiçar os jovens que por ela se perdiam por amores. E a jovem leviana, cortejada pelos mocetões valentes do lugar, para todos tinha um sorriso e uma esperança. Dois irmãos disputavam os seus favores e a sua predilecção, desconhecendo ambos que o mesmo sentimento os animava. Certa noite que a lua caprichava em cobrir aquela terra com um lençol de luz e cantavam as cigarras nos valados, encontraram-se os dois irmãos sobre a janela da mulher que amavam. Investiram, e só quando o ferro fratricida prostrava um contendor para sempre o outro reconheceu que assassinara o seu próprio irmão a quem muito queria. Ali mesmo se deu à morte, dizendo o povo que num túmulo de uma zona nobre da região se encontram agora sepultados os dois irmãos unidos na morte que o amor lhes dera.


Lenda da Peninha
Conta-se que no reinado de D. João III, na terra de Almoínhos-Velhos, havia uma pastora muda tinha o costume de levar as suas ovelhas a pastar ao cimo da serra.
Certo dia, uma das suas ovelhas fugiu, deixando a jovem pastorinha desesperada em busca da tal ovelha.
Após longas buscas observou ao longe uma senhora que trazia consigo a sua ovelha.
A pastorinha agradeceu muito da maneira que pode, visto que esta não conseguia falar.
A senhora, aproveitando a ocasião, pediu à pastorinha que lhe desse um pouco de pão. A pastora explicou-lhe, gestualmente, que esse ano tinha sido mau e havia muita fome. A senhora deu-lhe então um conselho:

- Quando chegares a casa chama pela tua mãe e procura pão.
A pastorinha tentou-lhe explicar que isso era impossível, pois para além de ter a certeza de não haver pão em sua casa, ela não podia chamar pela sua mãe, pois era muda. Mas a senhora tanto insistiu que a pastora decidiu fazer o que esta lhe dizia.
Ao chegar a casa chamou por sua mãe e a sua voz fez-se ouvir em toda a sua casa.
Contou a história a sua mãe e apressou-se em procurar o pão. E qual não foi o espanto das duas quando dentro de uma arca encontraram pão que chegou para a aldeia inteira.
No dia seguinte, como prova de agradecimento, toda a aldeia subiu à serra e precisamente no sítio onde a pastorinha tinha encontrado a senhora, estava agora uma gruta com a imagem de Nossa Senhora.
Esse local passou a ser sagrado e mais tarde foi aí construída uma capela, conhecida por capela de Nossa Senhora da Peninha.



Mito sobre o Convento de Mafra
A lenda diz que ratos gigantes habitam nos subterrâneos do Convento de Mafra, e que durante a noite eles saem para comer tudo aquilo que podem apanhar, mesmo cães e gatos. Até gente, afirmam algumas pessoas.
Será verdade? Existe também a lenda, que túneis ligam o Convento até à Ericeira, a cerca de 10 kms de distância, pelo qual, partiu para o exílio o último rei português, D. Manuel II, a 5 de Outubro de 1910, depois de proclamada a República.
Tuneis esses, que actualmente estarão infestados de ratazanas cegas. Foram também os pombos que motivaram o maior mito do Convento: a existência de ratazanas assassinas.
Um soldado da Escola Prática de Infantaria (instalada no edifício há perto de 100 anos), ao estar no terraço a caçar pombos com um colega, caiu de uma altura de oito andares, directamente para os canais dos esgotos. O colega não comunicou logo o acidente aos seus superiores para não ser castigado e, umas semanas mais tarde, o corpo foi encontrado roído pelas ratazanas. Obviamente que não foi atacado pelos ratos; morreu sim, da queda vertiginosa.
Para quando um plano de desratização? Estão á espera de quê? Será que haveria uma invasão nas zonas circundantes de ratos?
Alguém sabe mais?
Ratazanas cegas parece assustador.... mas elas alimentam-se de uma possível rede de esgotos... que tal irem lá resolver isto? Dou-me como voluntário ...

Lenda do Penedo dos ovos ( pedra amarela )
Existe, no meio da serra de Sintra um penedo elevado a prumo, caprichosamente, pela Natureza, ou produzidos pelas convulsões vulcânicas do terreno em tempos ignotos, anda ligada à seguinte lenda:
Dizia-se em tempos que por baixo de tal pedra havia um tesouro escondido (um tesouro encantado) que pertenceria a quem fosse capaz de derrubar o penedo , atirando-lhe com ovos.
Uma velha meteu então na cabeça que esse tesouro havia de lhe pertencer. Para tal, a velha começou a juntar tantos ovos quantos podia. Quando achou que já tinha uma boa provisão, deu início à sua ingénua tarefa. Carregou, pouco a pouco, todos os ovos para as imediações do penedo, e meteu mãos à obra. Um a um, dois a dois, e com quanta força dispunha, ia arremessando os ovos contra o penedo. Quando já não lhe restava nenhum, terrível decepção! O penedo continuava erecto e firme, lavado com ovos!
E foi assim que, em vez de cair por terra, o penedo, pondo a descoberto o maravilhoso tesouro, caíram por terra desfeitos todos os sonhos e todas as esperanças da pobre velha! E ainda hoje, o povo sempre propenso ao maravilhoso, julga ver nos musgos amarelados que cobrem o penedo, as gemas dos ovos que a velha contra ele arremessou.



Lenda da Casa da Moura Zaida
Na serra de Sintra, perto do Castelo dos Mouros, existe uma rocha com um corte que a tradição diz marcar a entrada para uma cova que tem comunicação com o castelo. É conhecida pela Cova da Moura ou a Cova Encantada e está ligada a uma lenda do tempo em que os Mouros dominavam Sintra e os cristãos nela faziam frequentes incursões. Num dos combates, foi feito prisioneiro um cavaleiro nobre por quem Zaida, a filha do alcaide, se apaixonou.

Dia após dia, Zaida visitava o nobre cavaleiro até que chegou a hora da sua libertação, através do pagamento de um resgate. O cavaleiro apaixonado pediu a Zaida para fugir com ele mas Zaida recusou, pedindo-lhe para nunca mais a esquecer. O nobre cavaleiro voltou para a sua família mas uma grande tristeza ensombrava os seus dias. Tentou esquecer Zaida nos campos de batalha, mas após muitas noites de insónia decidiu atacar de novo o castelo de Sintra.

Foi durante esse combate que os dois enamorados se abraçaram, mas a sorte ou o azar quis que o nobre cavaleiro tombasse ferido. Zaida arrastou o seu amado, através de uma passagem secreta, até uma sala escondida nas grutas e, enquanto enchia uma bilha de água numa nascente próxima para levar ao seu amado, foi atingida por uma seta e caiu ferida. O cavaleiro cristão juntou-se ao corpo da sua amada e os dois sangues misturaram-se, sendo ambos encontrados mais tarde já sem vida.

Desde então, em certas noites de luar, aparece junto à cova uma formosa donzela vestida de branco com uma bilha que enche de água para depois desaparecer na noite após um doloroso gemido…

Lenda das Amendoeiras em Flor
 Há muito tempo, antes da independência de Portugal, quando o Algarve pertencia aos mouros, havia ali um rei mouro que desposara uma rapariga do norte da Europa, à qual davam o nome de Gilda.

Era encantadora essa criatura, a quem todos chamavam a “Bela do Norte”, e por isso não admira que o rei, de tez cobreada, tão bravo e audaz na guerra, a quisesse para rainha.

Apesar das festas que houve nessa ocasião, uma tristeza se apoderou de Gilda. Nem os mais ricos presentes do esposo faziam nascer um sorriso naqueles lábios agora descorados: a “Bela do Norte” tinha saudades da sua terra.

O rei consegui, enfim, um dia, que Gilda, em pranto e soluços, lhe confessasse que toda a sua tristeza era devida a não ver os campos cobertos de neve, como na sua terra.

O grande temor de perder a esposa amada sugeriu, então, ao rei uma boa ideia. Deu ordem para que em todo o Algarve se fizessem plantações de amendoeiras, e no princípio da Primavera, já elas estavam todas cobertas de flores.

O bom rei, antevendo a alegria que Gilda havia de sentir, disse-lhe:

- Gilda, vinde comigo à varanda da torre mais alta do castelo e contemplareis um espectáculo encantador!

Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria ao ver todas as terras cobertas por um manto branco, que julgou ser neve.

- Vede – disse-lhe o rei sorrindo – como Alá é amável convosco. Os vossos desejos estão cumpridos!

A rainha ficou tão contente que dentro em pouco estava completamente curada. A tristeza que a matava lentamente desapareceu, e Gilda sentia-se alegre e satisfeita junto do rei que a adorava. E, todos os anos, no início da Primavera, ela via do alto da torre, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas, que lhe lembravam os campos cobertos de neve, como na sua terra.
..
A lenda do pirata Cambaral e da bela Leonor
Durante a primeira metade do século XVI, aquando do povoamento da ilha da
Madeira, chegou a este arquipélago, vindo do mar, um barco de piratas que
tinha
como comandante , Cambaral, pirata jovem e forte que espalhava o terror por
onde passava.
Amedrontados, os pescadores , foram pedir auxilio a um dos ricos homens da
ilha, de modo a que fosse dado caça ao pirata, para que este fosse condenado
á morte.
Assim que se aproximaram do barco que se encontrava ao largo da praia,
aqueles que iam dar caça aos piratas, foram também avistados por estes que
logo se
prepararam para o combate. Combate esse que durou várias horas e que
provocou bastantes mortes de ambos os lados.
Os piratas começaram a ceder e Cambaral, encontrado bastante ferido e sem
sentidos, foi feito prisioneiro. O homem rico que tinha liderado a luta,
levou
Cambaral para sua casa de modo a curá-lo antes que este fosse entregue á
justiça do reino.
Cambaral, foi entregue aos cuidados de Leonor, filha do dono da casa e
começou a sarar dia após dia. Esta convivência acabou por criar uma certa
intimidade
entre os dois belos jovens. Cambaral, ia ficando cada dia cada vez mais
fascinado e apaixonado por Leonor.
Vários dias se passaram e também Leonor foi ganhando amor pelo seu
prisioneiro. Passavam os dois, várias horas lado a lado, ela dedicando-se
cada vez mais
a ele e ele ficando cada vez mais apaixonado por ela.
Um mês após a batalha, Cambaral, ficou livre de perigo e teria que ser
entregue á justiça. Poucos dias restavam aos dois apaixonados
Leonor começou a olhar com esperança para o mar, á espera que dali viesse
alguma salvação. Cambaral, perdeu definitivamente o seu lado cruel e Leonor
acreditou
na sua regeneração definitiva.
Acabaram por compreender que nada mais lhes restava para além da fuga.
Cambaral, tinha ainda o seu barco no mar e acabaram por traçar um plano para
a noite
seguinte.
Quando a noite do dia seguinte chegou, Leonor dirigiu-se como sempre ao
quarto do prisioneiro que entretanto já tinha conseguido fugir. Ai
permaneceu o
tempo costumeiro e em seguida retirou-se para o seu quarto. Quando tudo
estava em silêncio na casa, Leonor saiu de mansinho, conforme o plano
traçado e
dirigiu-se á ponte onde se encontraria com o seu pirata.
Quando enfim se reuniram sobre a ponte, cheios de alegria abraçaram-se e
beijaram-se. Mas nesse preciso momento, o pai da jovem que tinha dado pela
sua
fuga, cheio de ódio pela traição sofrida, ergueu a espada que trazia e
cortou com um só golpe a cabeça aos dois amantes. Ali caíram os corpos
abraçados.
E a partir desse dia, aquela ponte, onde os amantes morreram abraçados,
ficou a ser conhecida pelo povo como a ponte do beijo.

A lenda da tomada de Faro aos Mouros
Parte das forças que atacaram o Castelo de Faro fora colocada no largo actualmente chamado de S. Francisco, e estas forças eram comandadas por um brioso
oficial, robusto e formoso rapaz, solteiro. Este oficial pôde ver em certa ocasião a formosa e gentil filha do governador mouro e dela ficou enamorado.
[...] Em certo dia conseguiu o oficial que a sua namorada o recebesse em curto rendez-vous dentro do castelo, combinando-se que o mouro intermediário lhe
abrisse, alta noite, a porta, hoje da Senhora do Repouso.
[...] À hora marcada entrou o oficial no castelo e aí em doce colóquio se entreteve com a dama dos seus encantos. À hora de sair, acompanhou ela o seu querido
namorado até à porta do castelo, levando consigo um irmão, criança de oito anos.
Quando se aproximaram da porta, disse-lhes o escravo, que da parte de fora estava muita gente, pois que mais de uma vez lhes chegavam aos ouvidos vozes
abafadas.
[..] O oficial, segurando nos braços a moura gentil, viu-se em eminente perigo. Avançou para fora com a moura e, quase ao transpôr a porta, hoje conhecida
pela Senhora do Repouso, notou que tinha nos braços não uma formosa jovem, mas apenas uns farrapos, que se desfaziam à mais pequena e leve aragem.
Olhou para o lado pela criancinha e não a viu. Então teve a profunda e tristíssima compreensão da sua desgraça. Caiu no chão sem sentidos.
[...] Nesse momento acudiram as forças do Mestre e de D. João de Aboim e os mouros tinham sido forçados a entregar o castelo, mediante uma avença com o
Rei D. Afonso.
O oficial [...] dirigiu-se à porta do castelo. Ao entrar pelo Arco da Senhora do Repouso viu ao lado esquerdo a cabeça de uma criança que se assomava por
um buraco.
- O que fazes aí, menino? perguntou o oficial, conhecendo o irmão da sua namorada.
- Estamos aqui encantados: eu e a minha irmã.
- Quem vos encantou?
- O nosso pai. Soube por uma espia que levavas nos braços a minha irmã acompanhada por mim e, invocando Allah, encantou-nos aqui no momento em que transpunhas
a porta. Por atraiçoarmos a santa causa do nosso Allah aqui ficaremos encantados.
- Por muito tempo?
-Enquanto o mundo for mundo.

A lenda da sempre-noiva
Perto de Arraiolos, ergue-se um belo solar construído entre os séculos XV e XVI, que tem o nome romântico de Solar da Sempre-Noiva.

A maioria dos monumentos desta época que ainda se encontram de pé são monumentos religiosos, como igrejas e conventos, ou então monumentos militares, como
fortes e muralhas. Este solar, embora em ruínas, é precioso, pois é uma das poucas casa em estilo manuelino que não desapareceu. Conserva ainda elegantes
janelas com arcos de ferradura e uma arcaria a que se dá o nome de galilé.
A lenda da Sempre-Noiva está associada a esta propriedade, muito antes de existir o solar.
Contam-se pelo menos três histórias com este nome!
A primeira sempre-noiva
Curiosamente, esta primeira lenda junta na mesma narrativa as duas tradições de Arraiolos, precisamente os tapetes e a Sempre-Noiva...
Ao que parece, no tempo das lutas entre cristãos e mouros, vivia ali uma donzela que ficou noiva em má altura pois no dia do casamento a vila foi atacada
e o noivo teve de partir para o combate.
Nesse tempo as guerras prolongavam-se por tempos infinitos e, não raro, mal acabava uma começava outra!
Assim, quando passado muitos anos o rapaz voltou e quis casar, a noiva, contristada por ter perdido a beleza da juventude, demorou a aparecer! E quando
os convidados já desesperavam que o casamento se efectuasse, ela apresentou-se coberta com um tapete para ocultar as «marcas do tempo».
A segunda sempre-noiva
A segunda Sempre-Noiva chamava-se Beatriz e era filha de D. Álvaro de Castro, irmão da malograda Inês de Castro e primeiro conde de Arraiolos.
Beatriz era uma jovem de fulgurante beleza, não admira pois que um castelhano chamado Afonso de Trastâmara se apaixonasse por ela.
Mas estes foram tempos conturbados! Portugal estava em guerra com Castela. Corria o ano de 1384, Lisboa estava cercada pelos espanhóis. O trono estava vago,
e era o mestre de Avis quem comandava a resistência dentro da cidade. Beatriz encontrava-se também em Lisboa e, por qualquer motivo obscuro, o mestre de
Avis suspendeu as hostilidades, deixou entrar um nobre espanhol chamado D. Pedro Álvares de Lara e casou-a com ele. Esta festa deve ter parecido bastante
bizarra aos olhos do povo, que dentro das muralhas sofria os tormentos da guerra!
Mas visto que decorreram seiscentos anos sobre o incidente,torna-se difícil ajuizar sobre os motivos que levaram as pessoas a proceder assim.
De qualquer forma, o casamento não chegou a consumar-se porque o noivo, regressando com Beatriz ao acampamento dos espanhóis, morreu de peste.
Afonso de Trastâmara recuperou a esperança de casar com a sua amada, mas morreu quando pelejava valentemente para a impressionar.
Depois da luta acabadas e de o mestre de Avis subir ao trono, Beatriz voltou a viver em Portugal e o rei lembrou-se de a dar em casamento a D. Nuno Álvares
Pereira, que tinha ficado viúvo e a quem tinha sido dado o título de segundo conde de arraiolos. Mas ele recusou.
E consta que o rei, conversando com ela longamente a fim de encontrar marido que lhe conviesse, acabou por ficar ele próprio cativo da sua beleza! Talvez
por isso, não só não voltou a escolher-lhe outro noivo como mandou matar Fernando Afonso que casou com ela secretamente. E mandou-o matar de uma forma
cruel: queimado numa fogueira armada na praça pública, para toda a gente ver.
A terceira sempre-noiva
Também se chamava Beatriz a terceira Sempre-Noiva.
Era filha de D. Afonso de Portugal, arcebispo de Évora, que era um homem cheio de iniciativa. Mandou construir vários conventos e palácios, entre os quais
este solar onde ela sempre residiu.
Esta menina estava noiva de um nobre espanhol, muito vaidoso mas muito medroso também!
Certo dia, passeando com ele pelos campos, surgiu um toiro tresmalhado que correu para eles. Em vez de a defender, o noivo fugiu a sete pés e foi o maioral
quem veio garbosamente em seu socorro. Esporeou o cavalo e conseguiu arrebatá-la no último instante! Conduziu-a depois na garupa até casa, e desse abraço
ela não se libertou mais. Apaixonara-se irremediavelmente pelo seu salvador.
Mas nesse tempo uma menina nobre não podia casar com o seu criado... Beatriz preferiu ficar solteira toda a vida, rejeitando com indiferença os mais ilustres
pretendentes.

A lenda dos três rios
Era uma vez três rios que nasceram em Espanha. Chamavam-se Douro, Tejo e
Guadiana. Estavam um dia a contemplar as nuvens e perguntaram-lhes de onde
vinham.
- Do mar - responderam as nuvens. - Ele é o vosso pai.
- Onde fica o mar? - perguntaram os rios.
- Lá longe, em Portugal - responderam as nuvens.
- É grande? - perguntaram os rios.
- É, é muito grande - responderam as nuvens
- Havemos de ir ver o mar - disseram os rios.
E combinaram que no dia seguinte iriam os três ver o mar. Assim fizeram.
O Guadiana acordou primeiro e lá foi calmamente, contemplando os montes e as
belezas que o espreitavam, e escolhendo os caminhos por onde passava, ao
chegar a Vila Real de Santo António parou maravilhado.
O segundo foi o Tejo. Quando acordou já o sol ia alto. Começou a andar
depressa, quase não escolhendo caminho, mas, quando entrou em Portugal,
pensou lá consigo que já deveria ter muito avanço e lembrou-se de gozar as
campinas e os montes, espreguiçando-se nas margens planas, antes de se
lançar nos braços do pai.
O Douro, quando acordou e se viu só, nem esfregou os olhos. Partiu à pressa
por desfiladeiros e precipícios, não escolhendo caminho, nem pensando em
gozar a natureza. Assim foi ele que, muito sujo e enlameado, chegou em
primeiro lugar.
E assim, com essa lenda contamos um pouco da história dos nossos três rios
mais importantes. Cada um tendo características diferentes.

o lobisomem
Diz a lenda que quando uma mulher tem 7 filhas e o oitavo filho é homem, esse menino será um Lobisomem. Também o será, o filho de mulher amancebada com
um Padre.
Sempre pálido, magro e orelhas compridas, o menino nasce normal. Porém, logo que ele completa 13 anos, a maldição começa.
Na primeira noite de terça ou sexta-feira, depois do aniversário, ele sai à noite e vai até um encruzilhada. Ali, no silêncio da noite, se transforma em
Lobisomem pela primeira vez, e uiva para a lua.
Daí em diante, toda terça ou sexta-feira, ele corre pelas ruas ou estradas desertas com uma matilha de cachorros latindo atrás. Nessa noite, ele visita,
7 partes da região, 7 pátios de igreja, 7 vilas e 7 encruzilhadas. Por onde passa, açoita os cachorros e apaga as luzes das ruas e das casas, enquanto
uiva de forma horripilante.
Antes do Sol nascer, quando o galo canta, o Lobisomem volta ao mesmo lugar de onde partiu e se transforma outra vez em homem. Quem estiver no caminho do
Lobisomem, nessas noites, deve rezar três Ave-Marias para se proteger.
Para quebrar o encanto, é preciso chegar bem perto, sem que ele perceba, e bater forte em sua cabeça. Se uma gota de sangue do Lobisomem atingir a pessoa,
ela também vira Lobisomem.

O Poço de S. Vicente
Contam que, quando S. Vicente ainda andava pelo Mundo, passou por Cuba. Nessa altura era uma terra despovoada, com muito pouca gente; as pessoas só vinham
para cá na época das vindimas e das colheitas. Como estava com sede, procurou onde beber uma gotinha de água. Encontrou uma nascente à entrada da Cuba
e bebeu da sua água. Achou-a uma maravilha, fresquinha, limpa,... mesmo boa. Gostou tanto da água que resolveu dar-lhe um dom e protagonizou :
"... Quem desta água beber, nesta terra quererá ficar ..."
E assim foi. As pessoas começaram a ficar cá e continuaram a beber a água do Poço de S. Vicente e predestinação continua.
As pessoas que vêm a Cuba gostam tanto de cá estar que voltam sempre e muitos forasteiros têm-se radicado cá.
Dizem até que antigamente, as moças da Cuba, quando os namorados eram de fora e nunca mais se resolviam a casar, elas como quem não quer a coisa, os levavam
a beber a água do poço de S. Vicente para ver se eles não abalavam ... e ficavam, não era por causa delas, ... era a modos da água.
Dizem os naturais de Cuba que " Cuba é melhor madrasta que mãe" que todos os que cá chegam querem cá ficar, mas não é assim; o Dom que S. Vicente deu à
água é que ainda hoje faz o milagre.

A Costureirinha
Viveu à muitos anos na Cuba, uma mocinha, chamada Mariana. Por ser muito habilidosa e porque ganhava a vida a costurar de casa em casa para quem necessitava,
toda a gente a conhecia e tratava por Costureirinha. Ela fazia vestidos bordados, lençóis, etc., tudo à mão.
Levava uma vida sem muitas ambições, mas tinha um sonho; - ter uma máquina de costura. Trabalhava muito. Acabava os trabalhos nas casas das pessoas e depois,
quando vinha para casa, continuava a trabalhar pela noite fora para ganhar dinheiro para comprar o seu sonho; - a máquina de costura.
Trabalhou durante anos a fio, guardando numa caixinha algum dinheirito. Até que um dia, abriu o a caixinha onde guardava as suas poupanças, contou e recontou
o dinheiro e viu que era o que necessitava: três reis.
No dia seguinte, logo de manhãzinha, foi a caminho de Beja, muito feliz, para comprar a máquina.
Ela agora parecia outra, fazia obra num abrir e fechar de olhos, era como se tivesse mais pessoas a trabalharem para ela.
Passado algum tempo, houve um surto de tuberculose e a Costureirinha, também foi atacada pela doença. Ficou muito fraca e já estava desenganada dos médicos
- restava-lhe esperar que a morte a viesse buscar.
Muito triste, chorou muito. Voltou-se para a Virgem Nossa Senhora D'Aires e implorou-lhe que a curasse, que ela em troca lhe daria a máquina de costura
(que era aquilo que ela de mais valioso possuía).
E assim foi, a Costureirinha curou-se e voltou a trabalhar. Mas a máquina fazia-lhe tanta falta, que ela resolveu pedir à Virgem mil perdões, mas que só
lhe daria a máquina quando estivesse para morrer, pois era a sua única forma de ganhar o sustento.
A virgem acedeu e a Costureirinha lá continuou a fazer os seus belíssimos trabalhos.
Já muito velhinha, sentindo que já não lhe restava muito tempo e como não tinha família e já não trabalhava, pediu a um estafeta que levasse a máquina de
costura à Virgem Nossa Senhora D'Aires, porque já não se sentia capaz de fazer essa viagem.
O estafeta acedeu, mas quando ia na viagem pensou em vender a máquina; e se o pensou, melhor o fez.
Quando voltou de viagem disse à Costureirinha que tinha entregue a máquina na Igreja da Senhora D'Aires, como lhe tinha prometido.
Passado algum tempo a Costureirinha finou-se. Quando se encontrou com a Virgem, esta perguntou-lhe pela máquina de costura. A Costureirinha contou-lhe a
história toda e a Virgem perdoou-lhe a falta. Mas a Costureirinha é que que não se esqueceu da promessa por cumprir e então de tempos a tempos vem à procura
do estafeta.
Contudo, não o consegue encontrar. Então dá um sinal que é o barulho de uma máquina de costura a trabalhar, para que o estafeta ao ouvi-lo se lembre da
falta que cometeu.
E ainda hoje, à noitinha, o tic-tic-tic da máquina de costura se consegue ouvir de casa em casa.

A Bilha de Água - Lenda da Bilha de S. Jorge
A Batalha de Aljubarrota travou-se em 14 de Agosto de 1385 entre o exército de D. João I de Portugal e o rei de Castela, num dia de calor abrasador. A batalha
tinha sido decidida pelo rei de Portugal e D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, contra a vontade da maioria da nobreza e do exército. A principal razão
era a desproporção das forças: trinta mil castelhanos contra sete mil portugueses. O auxílio esperado de Inglaterra não viria a tempo de evitar um eventual
cerco à cidade de Lisboa. Era melhor morrer com honra do que a humilhação da fuga. No dia da batalha encontravam-se os exércitos frente a frente, com o
sol a queimar o ar e a sede a começar a torturar os soldados portugueses. O Condestável temia mais a sede que o exército inimigo e incumbiu Antão Vasques
de procurar água, uma tarefa difícil dada a secura dos regatos. Mas por S. Jorge tudo era possível! Antão Vasques em vão procurou água e já desesperado
desceu do cavalo e ajoelhou-se na terra poeirenta e pediu ao seu anjo da guarda o impossível. No mesmo instante, surgiu uma camponesa com uma bilha de
água que quanto mais dela se bebia mais de água se enchia como de fonte inesgotável brotasse. Uma água que saciava a sede e renovava as forças e o espírito.
Os castelhanos atacaram, certos de encontrar os soldados enfraquecidos pela espera e pela sede. Mas os sete mil portugueses aguentaram firmes e para grande
surpresa dos castelhanos ripostaram com tal valentia que estes retiraram em debandada nesse dia de vitória para Portugal. No lugar onde surgiu a jovem
camponesa mandou o Condestável erguer a capela de S. Jorge e ainda hoje lá está uma bilha de água para dar de beber a quem passe e tenha sede.

A Mula da Rainha Santa

A Rainha Santa a que se refere esta lenda é D. Mafalda, a filha preferida de
D. Sancho I e a irmã favorita de D. Afonso II. A jovem princesa era bela e
perfeita como poucas e senhora de uma esmerada educação. Naquele tempo,
subiu ao trono de Castela D. Henrique, uma criança de doze anos apenas,
facilmente
manobrada pelo seu tutor, Álvaro de Lara, que queria governar através do
jovem rei. Querendo-lhe dar como esposa uma mulher que o dominasse quando
fosse
adulto, escolheu D. Mafalda e o casamento celebrou-se. D. Berengária, a mãe
de D. Henrique, invocou ao Papa a consanguinidade dos jovens e o divórcio
teve
lugar antes da súbita morte do rei aos 14 anos. D. Mafalda regressou a
Portugal virgem e assim se manteve até ao fim da sua vida, passando desde
então
a ser tratada por "rainha". Viveu os últimos anos da sua vida no Mosteiro de
Arouca, onde recebeu o hábito de monja. Morreu aos 90 anos durante uma
cobrança
de foros e rendas em Rio Tinto, cujos habitantes queriam que D. Mafalda
fosse sepultada nessa mesma terra. Mas em Arouca discordavam, porque era no
Mosteiro
que ela vivia e na sua igreja deveria repousar o seu corpo para sempre.
Estava a discórdia instalada quando alguém se lembrou de dizer que se
pusesse o
caixão em cima da mula em que a Infanta costuma viajar e para onde o animal
se dirigisse seria o local onde seria sepultada. A mula não teve dúvidas e
quando chegou à igreja do Mosteiro de Arouca, acercou-se do altar de S.
Pedro e aí morreu. O sepulcro de D. Mafalda foi duas vezes aberto no século
XVII
e tanto o seu corpo como as suas vestes estavam incorruptos. Em 1793, o Papa
Pio VI confirmou-lhe o culto com o título de beata.


Lenda dos Sete Ais
Esta é uma lenda estranha que está na origem do nome de um local do concelho
de Sintra e que remonta a 1147, data em que D. Afonso Henriques conquistou
Lisboa aos Mouros. Destacado para ocupar o castelo de Sintra, D. Mendo de
Paiva surpreendeu a princesa moura Anasir, que fugia com a sua aia Zuleima.
A
jovem assustada gritou um "Ai!" e quando D. Mendo mostrou intenção de não a
deixar sair, outro "Ai!" lhe saiu da garganta. Zuleima, sem lhe explicar a
razão, pediu-lhe para nunca mais soltar nenhum grito do género, mas ao ver
aproximar-se o exército cristão a jovem soltou o terceiro "Ai!". D. Mendo
decidiu
esconder a princesa e a sua aia numa casa que tinha na região e querendo
levar a jovem no seu cavalo, ameaçou-a de a separar da sua aia se ela não
acedesse
e Anasir deixou escapar o quarto "Ai!". Pouco depois de se instalar na casa,
a princesa moura apaixonou-se por D. Mendo de Paiva, retribuindo o amor do
cavaleiro cristão que em segredo a mantinha longe de todos. Um dia, a casa
começou a ser rondada por mouros e Zuleima receava que fosse o antigo noivo
de Anasir, Aben-Abed, que apesar de na fuga se ter esquecido da sua noiva,
voltava agora para castigar a sua traição. Zuleima contou a D. Mendo que uma
feiticeira lhe tinha dito que a princesa morreria ao pronunciar o sétimo
"Ai!". Entretanto, Anasir curiosa pela preocupação da aia em relação aos
seus
"Ais", exprimiu o quinto e o sexto consecutivamente, desesperando a sua aia
que continuou a não lhe revelar o segredo. D. Mendo partiu para uma batalha
e passados sete dias foi Aben-Abed que surpreendeu Anasir, que soltou o
sétimo "Ai!", ao mesmo tempo que o punhal do mouro a feria no peito.
Enlouquecido
pela dor, D. Mendo de Paiva tornou-se no mais feroz caçador de mouros do seu
tempo.

O cavaleiro Henrique
Nos primeiros tempos da Reconquista, cerca de treze mil cruzados vieram de
toda a Europa para auxiliar D. Afonso Henriques na Reconquista aos Mouros.
Entre
os muitos que pereceram e que foram considerados mártires, houve um
cavaleiro chamado Henrique, originário de Bona, que morreu na conquista de
Lisboa e
que foi sepultado na Igreja de S. Vicente de Fora. À memória do Cavaleiro
Henrique estão associados muitos milagres, um dos quais deixou vestígios no
nome
de uma rua de Lisboa.
A lenda diz que logo que Henrique foi sepultado, dois dos seus companheiros,
ambos cavaleiros surdos e mudos de nascença, vieram deitar-se sobre o seu
túmulo
de forma a que Henrique intercedesse junto de Deus pela sua cura. Em sonhos,
Henrique disse-lhes que Deus os tinha curado e quando acordaram verificaram
o milagre. Pouco tempo depois, morreu um escudeiro de Henrique dos
ferimentos que tinha sofrido na conquista de Lisboa e foi sepultado na
Igreja de S.
Vicente, mas longe do túmulo do seu amo. O cavaleiro Henrique apareceu em
sonhos ao sacristão da igreja e disse-lhe que queria o corpo do escudeiro
junto
de si. O sacristão não ligou importância ao sonho, nem quando este se
repetiu no dia seguinte. Na terceira noite, Henrique, novamente em sonhos,
falou-lhe
tão irritado com a sua indiferença que o sacristão acordou imediatamente e
passou todo o resto da noite a cumprir as suas indicações. Pela manhã e
apesar
de ter passado toda a noite naquele trabalho, encontrava-se descansado como
se tivesse dormido toda a noite. A novidade espalhou-se e os feitos do
Cavaleiro
Henrique continuaram: segundo a lenda, cresceu uma palma no seu túmulo cujas
folhas curavam os males de todos os peregrinos que ali acorriam. Um dia a
palma foi roubada mas ficou para sempre na memória do povo através do nome
de uma rua, a da Palma, na baixa de Lisboa.

A Lenda de Abidis

Outrora existia junto do rio Tejo um reino verdejante e florido. Nas suas florestas havia muitos animais. Os habitantes eram lavradores e caçadores que
amavam a Natureza.
O rei Gorgoris recebeu dos deuses o segredo de fazer o mel. Foi Gorgoris quem ensinou esse segredo às abelhas. Por isso era conhecido no seu reino e até
em países longínquos pela alcunha de Melícola.
Gorgoris tinha uma filha única, a bela princesa Capipso que adorava passear nas areias doiradas das praias do Tejo.
Certo dia, chegou ao cais de Melícola o navio do grego Ulisses que vinha abastecer-se de comida e água e, também, comprar o famoso mel daquela região.
O herói grego desembarcou para falar com o rei, mas encontrou Calipso e logo se apaixonaram e, esquecidos de tudo, ficaram dias e dias gozando as delícias
daquele país de sol e floridos campos e frondosas florestas. Os caçadores viram os namorados e foram contar ao rei Gorgoris.
Furioso, o rei ameaçou de morte o estrangeiro Ulisses porque não queria que a filha gostasse dele. Ulisses fugiu, às escondidas, numa noite escura. E a
pobre princesa ficou abandonada e à espera de, em breve, ter um bébé... A criança nasceu linda como um anjo. Num braço tinha marcada a vermelho uma flor
que a princesa beijou, com muita ternura.-Ábidis, assim te chamarás!.
Melícola mandou pôr o bébé num cesto e lançar o cesto ao rio. O cesto ficou encalhado numa praia do Tejo. Vieram as corças beber ao rio. Uma aproximou-se
do cesto. Puxou-o e deu de mamar a Ábidis. O Príncipe foi criado pelos animais do bosque.
Vinte anos depois, o rei Gorgoris estava à morte. Cheio de desgostos, porque não tinha nenhum filho, nem nenhum neto para herdar o reino. Os caçadores falaram-lhe
de um jovem, belo e forte, que andava com os animais pelas florestas dos montes e dos vales. O rei ordenou que o trouxessem à sua presença. Armaram-lhe
uma ratoeira e apanharam Ábidis. Logo que o viu, a pobre Calipso, que estava muito doente, reconheceu-o pelo sinal no braço. Gorgoris pediu perdão à filha
e ao neto e fê-lo seu herdeiro.
Ábidis governou muitos e muitos anos com justiça e sabedoria. Nos montes, onde foi criado pela corça, mandou construir uma cidade e chamou-lhe Esca Ábidis,
que significa as delícias de Ábidis.