A RECRIAÇÃO INTEGRAL DO COSTUME DA « DESFOLHADA DO MILHO » DEVE-SE Á INICIATIVA DO RANCHO FOLCLÓRICO AS MACANITAS DE TERCENA, ESTE LEVANTAMENTO ETNOGRÁFICO , TENDO EM CONTA A DEFESA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO DA REGIÃO SALOIA, MOMEADAMENTE FORMAS DE PENSAR E AGIR, EXPRESSÕES DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA, NORMAS DE VIDA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL, MODOS DE TRABALHO E ARTESANATO.
É TODA ESSA CULTURA, A PAR DA CULTURA ERUDITA, QUE INDIVIDUALIZA E PERSONALIZA UM POVO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS POVOS. TODOS OS POVOS, TODOS OS GRUPOS ÉTNICOS TÊM A OBRIGAÇÃO DE SE CONHECER. ESSE CONHECIMENTO É FEITO ATRAVÉS DE UMA CULTURA QUE CRIARAM E SE PROJECTA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
INTEGRADA NO CAMPO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL, PRETENDE-SE RECRIAR UMA ANTIGA TRADIÇÃO POPULAR EXISTENTE NA REGIÃO SALOIA: A DESFOLHADA DO MILHO.
A CONCRETIZAÇÃO DA RECRIAÇÃO DO COSTUME DA DESFOLHADA, COM UMA VERDADEIRA AUTENTICIDADE, SÓ É POSSÍVEL MEDIANTE A COLABORAÇÃO DE TODOS OS ELEMENTOS DO RANCHO FOLCLÓRICO ETNOGRÁFICO AS MACANITAS DE TERCENA, NA REPRESENTAÇÃO CÉNICA AO VIVO DESSE COSTUME; BEM COMO , A IMPRESCINDÍVEL CEDÊNCIA DE ESPAÇO DA QUINTA DO FILINTO, DESTE MODO NOS VAI PERMITIR A REALIZAÇÃO DESTA ACTIVIDADE, DADA A CONJUGAÇÃO DE CONDIÇÕES PROPÍCIAS DO LOCAL E AS ESPECIFICIDADES INERENTES Á RECRIAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO CULTURAL TÃO RICA E VIVA NA MEMÓRIA COLECTIVA DO POVO PORTUGUÊS.
PROGRAMA
Com a participação etnográfica e artística:
= Desfolhada do Milho = - - Recriação Integral , do Rancho Fol. Etng.
« as Macanitas » de Tercena
A CULTURA DO MILHO
FOI NO SUL DO MÉXICO QUE SE ENCONTRARAM OS MAIS ANTIGOS TESTEMUNHOS DESTA CULTURA. ANTES DOS TRABALHOS DE CAMPO LEVADOS A CABO EM 1960 POR R.S. HACNEICH E COLEGAS, AS PROVAS MAIS ANTIGAS PROVINHAM DA CAVERNA DOS MORCEGOS, NO NOVO MÉXICO ( C. 4500 A.C.). AQUELES VASTOS ESTUDOS, QUE INCIDIRAM SOBRE MUITOS LOCAIS DO VALE DE TEGUÃO, NO MÉXICO, HABITADOS NA ANTIGUIDADE, DERAM-NOS A CONHECER UM CICLO QUE SE INICIOU COM A UTILIZAÇÃO E SEMENTEIRA DO MILHO SELVAGEM ( 7200—5200 anos A.C.) E PROSSEGUIU COM A AUTÊNTICA CULTURA DURANTE A FASE COXCATLAM ( 200-3 400 A.C.) PARA ENTRAR A SEGUIR EM SUCESSIVOS PERIODOS DE EXPANSÃO POPULACIONAL E PROGRESSIVA ORGANIZAÇÃO DA AGRICULTURA.
ESTÁ, PORTANTO, ASSENTE QUE O MILHO SE IMPLANTOU NA AGRICULTURA NO DECURSO DOS ÚLTIMOS 7000 ANOS , PARECENDO TER TIDO COMO ANTEPASSADOS SELVAGEM UMA ESPÉCIE PRIMITIVA DE ZEA.
CONTRAPONDO-SE AOS RESTANTES CEREAIS, O MILHO APRESENTA NUMEROSOS GRÃOS FIRMEMENTE AGARRADOS A UM EIXO RÍGIDO, O CAROLO, E EM VEZ DE GRAÕS REVESTIDOS DE GLUMELAS FLORAIS É A MAÇAROCA QUE SE ENCONTRA ENVOLTA EM FOLHAS DE BAÍNHA MODIFICADA. ESTA PROTEÇÃO COLECTIVA E NÃO INDIVIDUAL OFERECE A GRANDE DESVANTAGEM DE OBVIAR Á DISPERSÃO DOS GRÃOS, E A FORMA CULTIVADA TAL COMO HOJE A CONHECEMOS DEPENDE, PARA SOBREVIVER, DA MÃO DO HOMEM.
MUITOS INVESTIGADORES TÊM AFIRMADO QUE O MILHO JÁ EXISTIA EM AFRICA NA ÉPOCA PRÉ-COLOMBIANA , MAS SEM PROVAS MUITO CONCLUDENTES, OS ELEMENTOS QUE ACTUALMENTE POSSUÍMOS INDICAM A PROBALIDADE DESTE TER SIDO INTRODUZIDO EM AFRICA PELOS PORTUGUESES, POR UMA VIA QUE SE AFIGURA POSSÍVEL, DO BRASIL OCIDENTAL POR MAR.
ENTRE NÓS A DIFUSÃO DO MILHO PROCESSOU-SE RÁPIDAMENTE, APÓS A SUA INTRODUÇÃO NO CENTRO E NOROESTE DO PAÍS, ZONAS HÚMIDAS QUE LHE SÃO FAVORÁVEIS, MAIS TARDE JÁ NOS PRICÍPIOS DO SÉC. XIX , A SUA EXPANSÃO ATINGIU TRÁS-OS-MONTES E BEIRAS INTERIORES, NO SUL, O MILHO ENTROU NA ROTAÇÃO DA POLICULTURA REGADA DA ESTREMADURA E DO ALGARVE, CONSTITUINDO NESTA ÚLTIMA PROVÍNCIA, COMO NO NOROESTE ELEMENTO IMPORTANTE DA ALIMENTAÇÃO HUMANA – AS PAPAS E BROAS ETC.,ETC. NO ALENTEJO E RIBATEJO, O MILHO, PARA PENSO DO GADO É, CULTIVADO EM REGIMES EXTENSIVOS E DE SEQUEIROS, FREQUENTEMENTE SEMEADOS NOS ALQUEIVES DO TRIGO.
PORÉM É NO ENTRE-DOURO E MINHO, BEIRA ALTA E BEIRA LITORAL, ÁREAS ONDE O PÃO , BASE DA ALIMENTAÇÃO, É A BROA DE FARINHA DE MILHO ( MISTURADA COM A DE CENTEIO), QUE A CULTURA DESTE CEREAL É MAIS VULTOSA. ESSENCIALMENTE DE REGADIO, A SUA CULTURA OCUPA POR ISSO A ÁREA HÚMIDA DO NOROESTE, EM CAMPOS FECHADOS, ONDE ALTERNA COM PRADOS NO INVERNO, LOCAIS DE PASTAGEM E PRODUTORAS DE FERRAGENS PARA GADO GROSSO, NO REGIME ROTATIVO DE CAMPO PRADO, AO MESMO TEMPO QUE COM UMA POLICULTURA INTERCALAR, SOBRETUDO FEIJÃO E ABOBORA, HORTICULTURA VARIADA, VINHA E FRUTEIRA, TUDO REGADO. E É SEM DÚVIDA AÍ QUE O SEU CULTIVO SE APRESENTA SOB, FORMAS MAIS RICAS E EXPRESSIVAS.
MODOS DE SEMEAR
O MILHO ERA GERALMENTE SEMEADO A LANÇO SOBRE A TERRA LAVRADA, SENDO COBERTO COM AS SUCESSIVAS PASSAGENS DA GRADE. O SEMEADOR LEVAVA A SEMENTE ORA DENTRO DUM SACO PRESO A TIRACOLO COM A BOCA ENTREABERTA, Á FRENTE, NA ALTURA DO PEITO, ORA DENTRO DE UMA CSETA DE ARCO – A CESTA DE SEMEAR COMEÇAVA A SEREAR PELO EXTREMO LATERAL DIREITO DO TERRENO, CAMINHANDO COMPASSADAMENTE E LANÇANDO O GRÃO COM O MÃO DIREITA MEIO FECHADA, EM MOVIMENTOS SEMI—CIRCULARES, DE MODO QUE O GRÃO COBRISSE UMA FAIXA DA TERRA CORRESPONDENTE A UMA « TREITA» DA GRADE. OUTROS PROCESSOS ERAM E SÃO AINDA CONHECIDOS COMO POR EXEMPLO O DE « BOTAR O MILHO AO REGO » EM QUE A PESSOA QUE ANDA A GUIAR A JUNTA DE BOIS VAI Á FRENTE DO ARADO LEVA A SEMENTE NUM SACO OU QUANDO MULHER, NUMA ALGIBEIRA E VAI DEITANDO GRÃO A GRÃO NO REGO ABERTO ANTERIORMENTE.
REGIÕES HÁ EM QUE A SEMENTEIRA ERA POR VEZES FEITA Á CAVADELA COM AUXÍLIO DE PEQUENO SACHO DE CABO CURTO, MANEJANDO COM A MÃO DIREITA; EM RÁPIDOS GOLPES ENQUANTO QUE A MÃO ESQUERDA LANÇAVA O GRÃO NA COVITA ABERTO.
NA REGIÃO DA SERRANA MINHOTA A SEMENTEIRA É IGUALMENTE FEITA Á MÃO E COM O AUXÍLIO DUM PEQUENO PAU AGUÇADO NUMA PONTA E CURVO NA OUTRA A ESPICHA -, PARA O EFEITO FAZIAM UM RISCO NA TERRA GRADADA, LIMITANDO UMA FAIXA MAIS OU MENOS LARGA CONFORME O NÚMERO DE PESSOAS. O MILHO ERA LEVADO NO AVENTAL DOBRADO E COM AS PONTAS PRESAS Á CINTURA; AS MULHERES, CURVADAS EMPUNHAVAM NA MÃO DIREITA A « ESPICHA » E COM ELA FAZIAM UM BURACO NA TERRA; IMEDIATAMENTE, COM A MÃO ESQUERDA TAPAVAM-NO.
OUTRO TIPO DE SEMENTEIRA DO MILHO CONCISTE EM RASGAR A TERRA JÁ PREVIAMENTE LAVRADA E GRADADA COM REGOS LONGOS COM ARADO MUNIDO DE UM FEIXE DE VARAS DE VIDE PRESO ENTRE A TEIRÓ A RABIÇA. AS MULHERES FAZEM A « ESTERCADA», LEVANDO CESTOS COM O ESTRUME DISTRIBUÍNDO-O Á MÃO PELO REGO ADIANTE; EM SEGUIDA COM O MILHO NO AVENTAL, DEIXAM CAIR QUATRO OU CINCO GRÃOS SOBRE O REGO, NO LUGAR ONDE COM O PÉ HAVIAM COBERTO O ESTRUME COM TERRA, COBRINDO NOVAMENTE DE TERRA COM O PÉ. QUANDO OS PEQUENOS PÉS DE MILHO ATINGEM UNS 12 CENTIMETROS DE ALTURA DÁ-SE-LHE A PRIMEIRA SACHA – A DESCRUA-, VERDADEIRA CAVA EM QUE SE FAZ UMA DISTRIBUIÇÃO SUMÁRIA DAS PLANTAS DO MILHO E SE ELIMINAM AS ERVAS DANINHAS, FICANDO A TERRA « AFOFADA » E « ACOGULADA » NOS ESPAÇOS ENTRE O MILHO: POUCAS SEMANAS DEPOIS TEM LUGAR A SEGUNDA SACHA – A ARRENDA; O MILHO É MONDADO, ARRANCADO Á MÃO AQUELE QUE SE CONSIDERE A MAIS, E A « ARRENDA » CONSISTE NO « ACOGULAR » DA TERRA AGORA CONTRA OS PÉS DE MILHO DE MODO A DEIXAR BEM MERGULHADAS AS RAÍZES E A PLANTA MAIS AMPARADA. TODAS ESTAS OPERAÇÕES SÃO LEVADAS A CABO MIUDE DE VEZES DURANTE O CRESCIMENTO DO MILHO.
A CEIFA E DESFOLHADA
MADURA A ESPIGA, A PLANTA É SELADA Á FOICE, CARREGADA EM CARROS DE BOIS OU NOUTRO MEIO DE TRANSPORTE E AMONTOADA NO TERREIRO DA CASA PERTO DA EIRA. EM ALGUMAS ÁREAS DO PAÍS. A ESPIGA É DESTACADA DA PLANTA E ESTA FICA NOS CAMPOS, EM MEDAS. NO NORTE DA REGIÃO ESTREMENHA, AS FOLHAS E ESPIGA SÃO TIRADAS DA CANA QUE FICA ERGUIDA E NUA NO CAMPO, ATÉ ESTE SER DE NOVO CULTIVADO. AS ESPIGAS VÃO SER DESFOLHADAS DE DIA OU DE NOITE COM PESSOAL DA CASA, OU PESSOAS AMIGAS QUE SE AJUDAVAM UMAS ÁS OUTRAS. MAS SÃO FREQUENTES AS DESFOLHADAS OU DESCAMIZADAS NOCTURNAS EM QUE PARTICIPAM OUTRAS PESSOAS DE FORA, DENTRO DESSE ESQUEMA DE RECIPROCIDADE E, SOBRETUDO QUANDO PREDOMINA O ELEMENTO FEMININO JOVEM, O QUE GERALMENTE ACONTECE, ELAS FACILMENTE ASSUMEM UM TOM PARTICULARMENTE ALEGRE, ANIMADO NÃO RARAS AS VEZES POR CANTARES, DESGARRADAS E BRINCADEIRAS DE RAPAZES QUE ELAS COMPARECEM, POR VEZESEMBUÇADOS ( BEIRAALTA ).
AO LONGO DA DESFOLHADA O ENCONTRO DO MILHO REI ( ESPIGA DE GRÃO VERMELHO ), QUE MUITAS VEZES NÃO É FORTUITO, CONSENTIDO A QUEM O ENCONTRA O DIREITO DE ABRAÇAR E EM CERTOS CASOS BEIJAR TODOS OS PRESENTES DO SEXO OPOSTO, ACENTUA UM DIFUSO EROTISMO QUE RECOBRE A ATOMOSFERA DESSE TRABALHO.
PARA FACILITAR A ABERTURA DO ENVÓLUCRO DA ESPIGA, UTILIZA-SE O « ESPETO » OU « ESFOLHADORA » COM O QUAL RASGAM O FOLHELHO. AS ESPIGAS SÃO DEPOIS ESTENDIDAS A SECAR AO SOL NA EIRA OU EM TERREIRO JUNTO Á CASA. DEPOIS DE SECAREM DURANTE UNS DIAS SÃO DEBULHADAS, QUE PODERÁ SER A MANGUALDE OU POR OUTROS PROCESSOS MAIS SIMPLES E ELEMENTARES AO CONTRÁRIO DAS MALHAS DO TRIGO E CENTEIO, QUE SE REVESTEM DE ASPECTOS TECNOLÓGICOS, SOCIAIS E CERIMONIAIS MUITO SIGNIFICATIVOS A DEBULHA DO MILHO, TALVEZ POR SER UM CEREAL RECENTE, DECORRE SEM QUALQUER PARTICULARIDADE DIGNA DE NOTA. ELA É FEITA GERALMENTE COM GENTE DA CASA, MALHANDO UMA OU MAIS PESSOAS, DÃO UMA PRIMEIRA « CORRIDA » E CHEGADOS AO FIM, COM OS ANCINHOS PENTEIAM AS ESPIGAS PARTIDAS E EM GRANDE PARTE JÁ DE BULHADAS, RETIRANDO-AS DE CIMA DO MILHO, VOLTANDO A AMONTOÁ-LAS AO CENTRO DA EIRA DANDO-LHES OUTRA CORRIDA. APÓS ESTA OS GRÃOS QUE AINDA FICARAM AGARRADOS AO CAROLO SÃO DEBULHADOS Á MÃO.
DESFOLHADA DO MILHO
ELE
AI MILHO BRANCO MILHO PRETO
AI MILHO DA FLOR AMARELA
AI DEBAIXO DO MILHO BRANCO
EU NAMOREI UMA DONZELA
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
ELE
PÉ AQUI, PÉ ALI, PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELE
EU JÁ-TE PEDI UM BEIJINHO
NÃO ME DESTE NÃO SEI PORQUÊ
ELA
EU SÓ LHE DOU UM BEIJINHO
QUANDO ENCONTRAR O MILHO REI
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
ELE
PÉ AQUI, PÉ ALI , PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELE
DÁ-ME LÁ UM BEIJINHO
E DEIXA-TE LÁ DE TRETAS
Á QUEM LHE CHAME MILHO REI
MAS AS MAÇAROCAS SÃO PRETAS
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
PÉ AQUI, PÉ ALI, PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELA EU NUNCA O TRATEI POR TU
AI, MAS SIM POR VOCEMECÊ
EU AGORA DOU-LHE UM BEIJINHO
JÁ ENCONTREI O MILHO REI
Reconstruído por: José M. Vidal Costa
A DESFOLHADA
FALAR-SE DO LAZER DO HOMEM SALOIO É FALAR SOBRETUDO DE UM TEMPO POUCO ENTRE O TRABALHO TRADICIONAL DA TERRA E DAS FÁBRICAS.
ENTRE UMA NOVA ENXADADA, A DESCANSAR, SOBRE O CABO, LÁ SE DESENROLAVA UM CIGARRO, DE TABACO , ZIG-ZAG, DEFINITIVOS, PROVISÓRIOS COM PAPEL GALO.
Á NOITE NA TABERNA, HAVIAM AS CARTAS, O DOMINÓ; A LARANJINHA OU O CHINQUILHO NUM PALHEIRO OU TELHEIRO OU MAIS RECENTEMENTE NAS COLECTIVIDADES.
MAS SE OS BAILES ERAM OBRIGATÓRIOS PARA OS SALOIOS, OUTRO ELEMENTO CERTO ERA A GAITA –DE – BEIÇOS OU HARMÓNICA QUE DE VEZ EM QUANDO LÁ SALTAVA PARA AS MÃOS E COM COMPASSO MARCADO PELO PÉ, SE ABRIA A FUNÇÃO Á QUAL TODOS ADERIAM.
AS FEIRAS OS CÍRIOS, AS PROCISSÕES ERAM OUTRAS FORMAS DE DIVERTIMENTOS QUE OS SALOIOS APRECIAVAM.
MAS SER SALOIO É CONSIDERAR TAMBÉM UMA COMPONENTE DE DIVERSÃO, DO TRAJAR,DE SOM, DE COR E LUZ: A FEIRA,O JARDIM, O CORETO,A IGREJA, O ARRAIAL, O FATO RICO,AS BELAS BOTAS PARA BAILHAR; TUDO ISTO FORAM / COMPONENTES QUE DEFINIRAM E DEFINEM O SALOIO.
SALOIOS COM UM SENTIDO DE HERANÇA , DE UM SER PRÓPRIO COM UM SENTIDO DE CULTURA QUE É PRECISO PRESERVAR.
TODOS COM RUMO AO FUTURO , MAS NUNCA ESQUECER O PASSADO
É TODA ESSA CULTURA, A PAR DA CULTURA ERUDITA, QUE INDIVIDUALIZA E PERSONALIZA UM POVO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS POVOS. TODOS OS POVOS, TODOS OS GRUPOS ÉTNICOS TÊM A OBRIGAÇÃO DE SE CONHECER. ESSE CONHECIMENTO É FEITO ATRAVÉS DE UMA CULTURA QUE CRIARAM E SE PROJECTA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
INTEGRADA NO CAMPO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL, PRETENDE-SE RECRIAR UMA ANTIGA TRADIÇÃO POPULAR EXISTENTE NA REGIÃO SALOIA: A DESFOLHADA DO MILHO.
A CONCRETIZAÇÃO DA RECRIAÇÃO DO COSTUME DA DESFOLHADA, COM UMA VERDADEIRA AUTENTICIDADE, SÓ É POSSÍVEL MEDIANTE A COLABORAÇÃO DE TODOS OS ELEMENTOS DO RANCHO FOLCLÓRICO ETNOGRÁFICO AS MACANITAS DE TERCENA, NA REPRESENTAÇÃO CÉNICA AO VIVO DESSE COSTUME; BEM COMO , A IMPRESCINDÍVEL CEDÊNCIA DE ESPAÇO DA QUINTA DO FILINTO, DESTE MODO NOS VAI PERMITIR A REALIZAÇÃO DESTA ACTIVIDADE, DADA A CONJUGAÇÃO DE CONDIÇÕES PROPÍCIAS DO LOCAL E AS ESPECIFICIDADES INERENTES Á RECRIAÇÃO DE UMA TRADIÇÃO CULTURAL TÃO RICA E VIVA NA MEMÓRIA COLECTIVA DO POVO PORTUGUÊS.
PROGRAMA
Com a participação etnográfica e artística:
= Desfolhada do Milho = - - Recriação Integral , do Rancho Fol. Etng.
« as Macanitas » de Tercena
A CULTURA DO MILHO
FOI NO SUL DO MÉXICO QUE SE ENCONTRARAM OS MAIS ANTIGOS TESTEMUNHOS DESTA CULTURA. ANTES DOS TRABALHOS DE CAMPO LEVADOS A CABO EM 1960 POR R.S. HACNEICH E COLEGAS, AS PROVAS MAIS ANTIGAS PROVINHAM DA CAVERNA DOS MORCEGOS, NO NOVO MÉXICO ( C. 4500 A.C.). AQUELES VASTOS ESTUDOS, QUE INCIDIRAM SOBRE MUITOS LOCAIS DO VALE DE TEGUÃO, NO MÉXICO, HABITADOS NA ANTIGUIDADE, DERAM-NOS A CONHECER UM CICLO QUE SE INICIOU COM A UTILIZAÇÃO E SEMENTEIRA DO MILHO SELVAGEM ( 7200—5200 anos A.C.) E PROSSEGUIU COM A AUTÊNTICA CULTURA DURANTE A FASE COXCATLAM ( 200-3 400 A.C.) PARA ENTRAR A SEGUIR EM SUCESSIVOS PERIODOS DE EXPANSÃO POPULACIONAL E PROGRESSIVA ORGANIZAÇÃO DA AGRICULTURA.
ESTÁ, PORTANTO, ASSENTE QUE O MILHO SE IMPLANTOU NA AGRICULTURA NO DECURSO DOS ÚLTIMOS 7000 ANOS , PARECENDO TER TIDO COMO ANTEPASSADOS SELVAGEM UMA ESPÉCIE PRIMITIVA DE ZEA.
CONTRAPONDO-SE AOS RESTANTES CEREAIS, O MILHO APRESENTA NUMEROSOS GRÃOS FIRMEMENTE AGARRADOS A UM EIXO RÍGIDO, O CAROLO, E EM VEZ DE GRAÕS REVESTIDOS DE GLUMELAS FLORAIS É A MAÇAROCA QUE SE ENCONTRA ENVOLTA EM FOLHAS DE BAÍNHA MODIFICADA. ESTA PROTEÇÃO COLECTIVA E NÃO INDIVIDUAL OFERECE A GRANDE DESVANTAGEM DE OBVIAR Á DISPERSÃO DOS GRÃOS, E A FORMA CULTIVADA TAL COMO HOJE A CONHECEMOS DEPENDE, PARA SOBREVIVER, DA MÃO DO HOMEM.
MUITOS INVESTIGADORES TÊM AFIRMADO QUE O MILHO JÁ EXISTIA EM AFRICA NA ÉPOCA PRÉ-COLOMBIANA , MAS SEM PROVAS MUITO CONCLUDENTES, OS ELEMENTOS QUE ACTUALMENTE POSSUÍMOS INDICAM A PROBALIDADE DESTE TER SIDO INTRODUZIDO EM AFRICA PELOS PORTUGUESES, POR UMA VIA QUE SE AFIGURA POSSÍVEL, DO BRASIL OCIDENTAL POR MAR.
ENTRE NÓS A DIFUSÃO DO MILHO PROCESSOU-SE RÁPIDAMENTE, APÓS A SUA INTRODUÇÃO NO CENTRO E NOROESTE DO PAÍS, ZONAS HÚMIDAS QUE LHE SÃO FAVORÁVEIS, MAIS TARDE JÁ NOS PRICÍPIOS DO SÉC. XIX , A SUA EXPANSÃO ATINGIU TRÁS-OS-MONTES E BEIRAS INTERIORES, NO SUL, O MILHO ENTROU NA ROTAÇÃO DA POLICULTURA REGADA DA ESTREMADURA E DO ALGARVE, CONSTITUINDO NESTA ÚLTIMA PROVÍNCIA, COMO NO NOROESTE ELEMENTO IMPORTANTE DA ALIMENTAÇÃO HUMANA – AS PAPAS E BROAS ETC.,ETC. NO ALENTEJO E RIBATEJO, O MILHO, PARA PENSO DO GADO É, CULTIVADO EM REGIMES EXTENSIVOS E DE SEQUEIROS, FREQUENTEMENTE SEMEADOS NOS ALQUEIVES DO TRIGO.
PORÉM É NO ENTRE-DOURO E MINHO, BEIRA ALTA E BEIRA LITORAL, ÁREAS ONDE O PÃO , BASE DA ALIMENTAÇÃO, É A BROA DE FARINHA DE MILHO ( MISTURADA COM A DE CENTEIO), QUE A CULTURA DESTE CEREAL É MAIS VULTOSA. ESSENCIALMENTE DE REGADIO, A SUA CULTURA OCUPA POR ISSO A ÁREA HÚMIDA DO NOROESTE, EM CAMPOS FECHADOS, ONDE ALTERNA COM PRADOS NO INVERNO, LOCAIS DE PASTAGEM E PRODUTORAS DE FERRAGENS PARA GADO GROSSO, NO REGIME ROTATIVO DE CAMPO PRADO, AO MESMO TEMPO QUE COM UMA POLICULTURA INTERCALAR, SOBRETUDO FEIJÃO E ABOBORA, HORTICULTURA VARIADA, VINHA E FRUTEIRA, TUDO REGADO. E É SEM DÚVIDA AÍ QUE O SEU CULTIVO SE APRESENTA SOB, FORMAS MAIS RICAS E EXPRESSIVAS.
MODOS DE SEMEAR
O MILHO ERA GERALMENTE SEMEADO A LANÇO SOBRE A TERRA LAVRADA, SENDO COBERTO COM AS SUCESSIVAS PASSAGENS DA GRADE. O SEMEADOR LEVAVA A SEMENTE ORA DENTRO DUM SACO PRESO A TIRACOLO COM A BOCA ENTREABERTA, Á FRENTE, NA ALTURA DO PEITO, ORA DENTRO DE UMA CSETA DE ARCO – A CESTA DE SEMEAR COMEÇAVA A SEREAR PELO EXTREMO LATERAL DIREITO DO TERRENO, CAMINHANDO COMPASSADAMENTE E LANÇANDO O GRÃO COM O MÃO DIREITA MEIO FECHADA, EM MOVIMENTOS SEMI—CIRCULARES, DE MODO QUE O GRÃO COBRISSE UMA FAIXA DA TERRA CORRESPONDENTE A UMA « TREITA» DA GRADE. OUTROS PROCESSOS ERAM E SÃO AINDA CONHECIDOS COMO POR EXEMPLO O DE « BOTAR O MILHO AO REGO » EM QUE A PESSOA QUE ANDA A GUIAR A JUNTA DE BOIS VAI Á FRENTE DO ARADO LEVA A SEMENTE NUM SACO OU QUANDO MULHER, NUMA ALGIBEIRA E VAI DEITANDO GRÃO A GRÃO NO REGO ABERTO ANTERIORMENTE.
REGIÕES HÁ EM QUE A SEMENTEIRA ERA POR VEZES FEITA Á CAVADELA COM AUXÍLIO DE PEQUENO SACHO DE CABO CURTO, MANEJANDO COM A MÃO DIREITA; EM RÁPIDOS GOLPES ENQUANTO QUE A MÃO ESQUERDA LANÇAVA O GRÃO NA COVITA ABERTO.
NA REGIÃO DA SERRANA MINHOTA A SEMENTEIRA É IGUALMENTE FEITA Á MÃO E COM O AUXÍLIO DUM PEQUENO PAU AGUÇADO NUMA PONTA E CURVO NA OUTRA A ESPICHA -, PARA O EFEITO FAZIAM UM RISCO NA TERRA GRADADA, LIMITANDO UMA FAIXA MAIS OU MENOS LARGA CONFORME O NÚMERO DE PESSOAS. O MILHO ERA LEVADO NO AVENTAL DOBRADO E COM AS PONTAS PRESAS Á CINTURA; AS MULHERES, CURVADAS EMPUNHAVAM NA MÃO DIREITA A « ESPICHA » E COM ELA FAZIAM UM BURACO NA TERRA; IMEDIATAMENTE, COM A MÃO ESQUERDA TAPAVAM-NO.
OUTRO TIPO DE SEMENTEIRA DO MILHO CONCISTE EM RASGAR A TERRA JÁ PREVIAMENTE LAVRADA E GRADADA COM REGOS LONGOS COM ARADO MUNIDO DE UM FEIXE DE VARAS DE VIDE PRESO ENTRE A TEIRÓ A RABIÇA. AS MULHERES FAZEM A « ESTERCADA», LEVANDO CESTOS COM O ESTRUME DISTRIBUÍNDO-O Á MÃO PELO REGO ADIANTE; EM SEGUIDA COM O MILHO NO AVENTAL, DEIXAM CAIR QUATRO OU CINCO GRÃOS SOBRE O REGO, NO LUGAR ONDE COM O PÉ HAVIAM COBERTO O ESTRUME COM TERRA, COBRINDO NOVAMENTE DE TERRA COM O PÉ. QUANDO OS PEQUENOS PÉS DE MILHO ATINGEM UNS 12 CENTIMETROS DE ALTURA DÁ-SE-LHE A PRIMEIRA SACHA – A DESCRUA-, VERDADEIRA CAVA EM QUE SE FAZ UMA DISTRIBUIÇÃO SUMÁRIA DAS PLANTAS DO MILHO E SE ELIMINAM AS ERVAS DANINHAS, FICANDO A TERRA « AFOFADA » E « ACOGULADA » NOS ESPAÇOS ENTRE O MILHO: POUCAS SEMANAS DEPOIS TEM LUGAR A SEGUNDA SACHA – A ARRENDA; O MILHO É MONDADO, ARRANCADO Á MÃO AQUELE QUE SE CONSIDERE A MAIS, E A « ARRENDA » CONSISTE NO « ACOGULAR » DA TERRA AGORA CONTRA OS PÉS DE MILHO DE MODO A DEIXAR BEM MERGULHADAS AS RAÍZES E A PLANTA MAIS AMPARADA. TODAS ESTAS OPERAÇÕES SÃO LEVADAS A CABO MIUDE DE VEZES DURANTE O CRESCIMENTO DO MILHO.
A CEIFA E DESFOLHADA
MADURA A ESPIGA, A PLANTA É SELADA Á FOICE, CARREGADA EM CARROS DE BOIS OU NOUTRO MEIO DE TRANSPORTE E AMONTOADA NO TERREIRO DA CASA PERTO DA EIRA. EM ALGUMAS ÁREAS DO PAÍS. A ESPIGA É DESTACADA DA PLANTA E ESTA FICA NOS CAMPOS, EM MEDAS. NO NORTE DA REGIÃO ESTREMENHA, AS FOLHAS E ESPIGA SÃO TIRADAS DA CANA QUE FICA ERGUIDA E NUA NO CAMPO, ATÉ ESTE SER DE NOVO CULTIVADO. AS ESPIGAS VÃO SER DESFOLHADAS DE DIA OU DE NOITE COM PESSOAL DA CASA, OU PESSOAS AMIGAS QUE SE AJUDAVAM UMAS ÁS OUTRAS. MAS SÃO FREQUENTES AS DESFOLHADAS OU DESCAMIZADAS NOCTURNAS EM QUE PARTICIPAM OUTRAS PESSOAS DE FORA, DENTRO DESSE ESQUEMA DE RECIPROCIDADE E, SOBRETUDO QUANDO PREDOMINA O ELEMENTO FEMININO JOVEM, O QUE GERALMENTE ACONTECE, ELAS FACILMENTE ASSUMEM UM TOM PARTICULARMENTE ALEGRE, ANIMADO NÃO RARAS AS VEZES POR CANTARES, DESGARRADAS E BRINCADEIRAS DE RAPAZES QUE ELAS COMPARECEM, POR VEZESEMBUÇADOS ( BEIRAALTA ).
AO LONGO DA DESFOLHADA O ENCONTRO DO MILHO REI ( ESPIGA DE GRÃO VERMELHO ), QUE MUITAS VEZES NÃO É FORTUITO, CONSENTIDO A QUEM O ENCONTRA O DIREITO DE ABRAÇAR E EM CERTOS CASOS BEIJAR TODOS OS PRESENTES DO SEXO OPOSTO, ACENTUA UM DIFUSO EROTISMO QUE RECOBRE A ATOMOSFERA DESSE TRABALHO.
PARA FACILITAR A ABERTURA DO ENVÓLUCRO DA ESPIGA, UTILIZA-SE O « ESPETO » OU « ESFOLHADORA » COM O QUAL RASGAM O FOLHELHO. AS ESPIGAS SÃO DEPOIS ESTENDIDAS A SECAR AO SOL NA EIRA OU EM TERREIRO JUNTO Á CASA. DEPOIS DE SECAREM DURANTE UNS DIAS SÃO DEBULHADAS, QUE PODERÁ SER A MANGUALDE OU POR OUTROS PROCESSOS MAIS SIMPLES E ELEMENTARES AO CONTRÁRIO DAS MALHAS DO TRIGO E CENTEIO, QUE SE REVESTEM DE ASPECTOS TECNOLÓGICOS, SOCIAIS E CERIMONIAIS MUITO SIGNIFICATIVOS A DEBULHA DO MILHO, TALVEZ POR SER UM CEREAL RECENTE, DECORRE SEM QUALQUER PARTICULARIDADE DIGNA DE NOTA. ELA É FEITA GERALMENTE COM GENTE DA CASA, MALHANDO UMA OU MAIS PESSOAS, DÃO UMA PRIMEIRA « CORRIDA » E CHEGADOS AO FIM, COM OS ANCINHOS PENTEIAM AS ESPIGAS PARTIDAS E EM GRANDE PARTE JÁ DE BULHADAS, RETIRANDO-AS DE CIMA DO MILHO, VOLTANDO A AMONTOÁ-LAS AO CENTRO DA EIRA DANDO-LHES OUTRA CORRIDA. APÓS ESTA OS GRÃOS QUE AINDA FICARAM AGARRADOS AO CAROLO SÃO DEBULHADOS Á MÃO.
DESFOLHADA DO MILHO
ELE
AI MILHO BRANCO MILHO PRETO
AI MILHO DA FLOR AMARELA
AI DEBAIXO DO MILHO BRANCO
EU NAMOREI UMA DONZELA
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
ELE
PÉ AQUI, PÉ ALI, PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELE
EU JÁ-TE PEDI UM BEIJINHO
NÃO ME DESTE NÃO SEI PORQUÊ
ELA
EU SÓ LHE DOU UM BEIJINHO
QUANDO ENCONTRAR O MILHO REI
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
ELE
PÉ AQUI, PÉ ALI , PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELE
DÁ-ME LÁ UM BEIJINHO
E DEIXA-TE LÁ DE TRETAS
Á QUEM LHE CHAME MILHO REI
MAS AS MAÇAROCAS SÃO PRETAS
ELA
OLHA O DEDO QUE SE ATIRA AO AR
EU SOU CORADINHA DA COR DA ROMÃ
PÉ AQUI, PÉ ALI, PÉ ALÉM
DÁ-ME UM BEIJO MEU QUERIDO BEM
ELA
EU DOU-LHE UM BEIJINHO E QUERO REPETIR
PRA ESTA GENTINHA SE FARTAR DE RIR
ELA EU NUNCA O TRATEI POR TU
AI, MAS SIM POR VOCEMECÊ
EU AGORA DOU-LHE UM BEIJINHO
JÁ ENCONTREI O MILHO REI
Reconstruído por: José M. Vidal Costa
A DESFOLHADA
FALAR-SE DO LAZER DO HOMEM SALOIO É FALAR SOBRETUDO DE UM TEMPO POUCO ENTRE O TRABALHO TRADICIONAL DA TERRA E DAS FÁBRICAS.
ENTRE UMA NOVA ENXADADA, A DESCANSAR, SOBRE O CABO, LÁ SE DESENROLAVA UM CIGARRO, DE TABACO , ZIG-ZAG, DEFINITIVOS, PROVISÓRIOS COM PAPEL GALO.
Á NOITE NA TABERNA, HAVIAM AS CARTAS, O DOMINÓ; A LARANJINHA OU O CHINQUILHO NUM PALHEIRO OU TELHEIRO OU MAIS RECENTEMENTE NAS COLECTIVIDADES.
MAS SE OS BAILES ERAM OBRIGATÓRIOS PARA OS SALOIOS, OUTRO ELEMENTO CERTO ERA A GAITA –DE – BEIÇOS OU HARMÓNICA QUE DE VEZ EM QUANDO LÁ SALTAVA PARA AS MÃOS E COM COMPASSO MARCADO PELO PÉ, SE ABRIA A FUNÇÃO Á QUAL TODOS ADERIAM.
AS FEIRAS OS CÍRIOS, AS PROCISSÕES ERAM OUTRAS FORMAS DE DIVERTIMENTOS QUE OS SALOIOS APRECIAVAM.
MAS SER SALOIO É CONSIDERAR TAMBÉM UMA COMPONENTE DE DIVERSÃO, DO TRAJAR,DE SOM, DE COR E LUZ: A FEIRA,O JARDIM, O CORETO,A IGREJA, O ARRAIAL, O FATO RICO,AS BELAS BOTAS PARA BAILHAR; TUDO ISTO FORAM / COMPONENTES QUE DEFINIRAM E DEFINEM O SALOIO.
SALOIOS COM UM SENTIDO DE HERANÇA , DE UM SER PRÓPRIO COM UM SENTIDO DE CULTURA QUE É PRECISO PRESERVAR.
TODOS COM RUMO AO FUTURO , MAS NUNCA ESQUECER O PASSADO
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