CASAS SALOIAS
vendo aqui e ali este e aquele casario típico da Estremadura, apercebemos nas suas nuances e comparando-as às crónicas e fotografias de há 100 anos atrás, como seria então a paisagem do Termo.
Casas chãs aglomeradas formando curtas ruas calcetadas, ou de terra batida que era o mais usual; casario isolado em meio de hortas e quintedos onde, destacado ou discreto, o solar apalaçado dum nobre ou o convento exíguo de alguma freiria de vocação ermitã abrilhantavam ainda mais o já de si soberbo quadro rural cujo tipicismo peculiar ou singular é hoje lembrado pelos mais idosos com nostalgia e saudade.
Tal quadro rural ,de outras terras não será muito diferente do da Sintra Saloia de há não muitos anos atrás, como descreve Vitor Serrão (in Sintra (os aglomerados saloios). Editorial Presença, 1.ª edição, Lisboa, 1989):
«A chamada Região dos Saloios – a região que integra os limites cistaganos do Município Olisiponense, ou seja, o território da península de Lisboa, cingido a norte pelos actuais concelhos de torres Vedras e de Alenquer – tem no concelho de Sintra uma das suas zonas mais interessantes sob o ponto de vista de genuíno património edificado.
«A construção saloia, habitualmente com o seu lagar, fornos, adega, estábulos e curral, com as suas típicas coberturas de quatro águas, um peculiar sistema de aberturas, etc., reflecte sobretudo a actividade agrícola do homem saloio, que continua como os seus antepassados a ser o çahroi da época muçulmana, isto é, o trabalhador do campo.»
Sendo o saloio descendente do moçárabe, será da cultura arábica que herda muitos dos seus usos e costumes, inclusive a arquitectura, como se nota nas formas e proporções daquele que é o seu tecto habitual. Sobre isto, diz Maria Micaela Soares (in A Mudança na Cultura Saloia. Artigo inserto em Loures, Tradição e Mudança, vol. I, pág. 170. Loures, 1986):
«Imprimia o Saloio à sua habitação a robustez física e de carácter que o individualizaram. Sendo evidente que a casa saloia se insere no tipo de casa tradicional do Sul do País, ela possui um quê distintivo que logo a singulariza na Estremadura.»
«Imprimia o Saloio à sua habitação a robustez física e de carácter que o individualizaram. Sendo evidente que a casa saloia se insere no tipo de casa tradicional do Sul do País, ela possui um quê distintivo que logo a singulariza na Estremadura.»
Tal singularidade tem base ou raiz sagrada que, para ser compreendida devidamente, ter-se-á de recorrer à intenção do sentido da arquitectura árabe, distendendo-se do Algarve à Estremadura, passando os Alentejos (vd. Casas Portuguesas (Alguns apontamentos sobre o arquitecturar das Casas Simples), por Raul Lino. Lisboa, 1933).
Apesar deste ou aquele excesso destoante, a casa saloia, tal como a árabe, assentou originalmente sobre a raiz quadrada de dois (√2), portanto sobre uma planta quadrada, tendo a primeira no seu centro a casa de fora, ou da entrada, por onde se acedia às restantes divisões, enquanto a segunda fechava-se em torno de um claustro quadrado encerrando no seu centro um jardim ou uma fonte, ou ambas as coisas.
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