CINTRASEUPOVO

quinta-feira, 24 de junho de 2010

MESTRE LEAL DA CÂMARA

Mestre Leal da Câmara

Nascido em 30 de Novembro de 1876 em Pangin, Nova Goa, na Índia, Tomás Leal da Câmara era filho de um oficial militar que prestava serviço naquela colónia portuguesa. Aos quatro anos regressa ao nosso país e desde criança que se lhe notava uma forte propensão para o desenho. Estudou agronomia e veterinária, mas foi no jornalismo que iniciou a sua vida profissional.
Aliando o seu apurado “sentido” crítico com as suas aptidões nas artes, nomeadamente no desenho caricatural, que desenvolvera desde a juventude, de uma forma bem humorística fez críticas à sociedade e aos políticos de então, publicando jocosas caricaturas em revista e jornais da época, tais como, O Inferno, A Marselhesa, A Corja e O Diabo, sendo os mais visados o clero e a realeza, principalmente o Rei D. Carlos.

Estas habilidades valeram-lhe perseguições pelo poder político, obrigando-o a fugir para Madrid onde também põe em prática a sua arte, ridicularizando a nobreza e a sociedade vigente no país de “nuestros hermanos”. Encontrando-se insatisfeito e perseguido partiu para Paris, cidade luz e dos poetas, tendo-se aí deparado com uma república fervilhante de ideias novas e emoções, mais apropriada para o seu feitio irreverente. Regressou a Portugal aquando da implantação da República, mas os ideais que encontrou e as diferenças culturais cada vez mais cavadas, não o convenceram. Voltou para Paris onde pôs em prática a sua arte de forma livre e espontânea, retratando a vida daquela sociedade em belas pinturas a óleo, aguarelas e tinta da china, colaborando no grande jornal de caricaturas L'Assiette au Beurre, sendo a sua arte reconhecida na Europa.

Quando rebentou a primeira grande guerra mundial retornou a Portugal, fixando-se em Leça da Palmeira, tendo exercido a profissão de professor de desenho na Escola Infante D. Henrique, no Porto, voltando depois a Lisboa onde continuou a leccionar e a pintar as suas famosas aguarelas, tendo também ilustrado os contos para crianças de Ana de Castro Osório. Em 1922 esteve no Brasil onde deixou também a sua marca artística.

Desde a fundação de Portugal que Sintra e as suas terras envolventes, com paisagens verdejantes, abundantes águas e belos palácios, foi escolhida como local de caça e de descanso da nobreza. Na primeira metade do século passado, com o fim da monarquia, foi procurada pelos novos-ricos. Banqueiros, comerciantes e artistas, construíram chalés, moradias e recuperaram palacetes antigos. Muitos deixaram de vez o bulício da capital e passaram a viver no campo. Assim pensou o artista Leal da Câmara, em 1930 comprou uma antiga cavalariça, que servia de entreposto de muda de cavalos, outrora propriedade do Marquês de Pombal, situada num dos caminhos da rota de Sintra, em Rinchoa. Restaurou-a, decorou-a a seu gosto, fazendo dela sua residência e ateliê. Aqui realizou grande parte da sua obra, retratando a vivência saloia das gentes da terra, na sua maioria camponeses e criados, que viviam dos trabalhos do campo.
Eram tantas as obras de arte que possuía, que transforma a sua casa em museu-ateliê. Veio a falecer em 1948, deixando vastíssima obra às gentes da terra, que poderá ser apreciada na Casa-museu, a que foi dado o seu nome.

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