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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

TRAJAR E A MODA


Moda é a tendência de consumo da actualidade. A palavra moda significa costume e provém do latim modus. É composta de diversos estilos que podem ter sido influenciados sob vários aspectos. Acompanha o vestuário e o tempo, que se integra ao simples uso das roupas no dia-a-dia. É uma forma passageira e facilmente mutável de se comportar e sobretudo de se vestir ou pentear.
 
"Embora tenham sido encontradas agulhas feitas de marfim, usadas para costurar pedaços de couro, que datam cerca de 40 000 a.C., ou mesmo evidencias de que o tear foi inventado há cerca de 9 000 a.C., só podemos pensar em moda em tempos muitos mais recentes. Ela se desenvolve em decorrência de processos históricos que se instauram no final da Idade Média (século XIV) e continuam a se desenvolver até a chegar ao século XIX.

A moda nos remete ao mundo esplendoroso e único das celebridades. Vestidos deslumbrantes, costureiros famosos, tecidos e aviamentos de ultima geração. Não nos leva a pensar que desde a pré-história o homem vem criando sua moda, não somente para proteger o corpo das intempéries, mas como forma de se distinguir em vários outros aspectos tais como sociais, religiosos, estéticos, místicos ou simplesmente para se diferenciar individualmente.

A moda passou por várias transformações, muitas vezes seguindo as mudanças físicas e principalmente sociais que ocorreram dentro de um determinado período.

A moda pode ser considerada o reflexo da evolução do comportamento. Uma espécie de retrato da comunidade. É uma linguagem não verbal com significado de diferenciação. Instiga novas formas de pensar e agir.

A moda é abordada como um fenômeno sociocultural que expressa os valores da sociedade - usos, hábitos e costumes - em um determinado momento. Já o estilismo e o design são elementos integrantes do conceito moda, cada qual com os seus papéis bem definidos.

As três primeiras e fundamentais necessidades do homem são o alimento, o traje e a casa. O acto de comer e o acto de se cobrir são insubstituíveis por qualquer outro tipo de produto. Todavia a casa pode ser suprida por um abrigo natural ou artificial. Durante milénios, as grutas e, posteriormente,a tenda constituíram para o homem primitivo e nómada uma forma de refúgio e de sobrevivência frente às condições atmosféricas e ao ataque dos animais. Nesta medida, pode afirmar-se que o traje constitui, na verdade, a segunda necessidade do homem, tendo sofrido ao longo dos tempos e, no nosso território, uma evolução muito lenta e progressiva.


Muito embora tenha sido nos climas tropicais que os adornos ganharam uma expressão de vestimenta, desconhecendo-se nessas áreas geográficas e, em tempos pré-históricos, o traje, os Neanderthais europeus e peninsulares de senvolveram adereços vários e contas, imitando os Sapiens Sapiens que executavam colares e amuletos mágicos, que penduravam ao pescoço.
A história e traje de um povo

A capacidade para criar símbolos provém dos nossos antepassados africanos, por via dos Cro-Magnon, de que o Homo Sapiens Sapiens descende. Nem o Mesolítico nem o Neolítico se desenvolvem universalmente nos mesmos tempos históricos, existindo discrepâncias no seu aparecimento nos diferentes continentes e regiões, razão pela qual o texto prosseguirá tendo como base a cronologia ibérica. De referir, sumariamente, que os deuses agricultores e criadores de gado vêm substituir os deuses dos caçadores 1. A tese da neolitização do centro litoral português, formulada por Zilhão, foi efectuada por colonização marítima, cuja economia se baseava no cultivo do trigo e da domesticação da ovelha, na manufactura de cerâmica e de pedra polida. Assim, o Algarve e o litoral entre Tejo e Mondego foram os locais de instalação dos primeiros agricultores do Ocidente, semelhantes aos das regiões de origem dos grupos pioneiros que espalharam o Neolítico pelo Mediterrâneo ocidental.
É nesta fase histórica que se desenrolam dois acontecimentos revolucioná -rios: a domesticação das plantas e  dos animais.  Estes eventos  vieram  permitir a passagem do nomadismo ao sedentarismo, visto que o homem deixou de estar sujeito à exaustão ou rarefacção de alimentos nos locais onde foi habitando.

A primeira necessidade humana, o alimento, passou a ficar potencialmente resolvida, na medida em que a solução para a recolha dos seus víveres lhe ficou acessível . A descoberta da agricultura foi, como se sabe, uma imensa revolução. Deveu-se ao acaso e foi obra da mulher.

Enquanto a verticalidade , é imutável, o rectângulo têxtil possui a ductilidade de ser horizontal, vertical e diagonal, de poder fazer um enrolamento, de serpentear a figura humana, de se enroscar nele e de o abraçar num gesto de amor, de protecção e de carinho materno e fêmeo. Manufacturaram-se e ainda se manufacturam rectângulos têxteis em todos os locais onde existem tecidos, mesmo quando a técnica não é a da tecelagem, mas a do pisar a casca de árvore até a tornar macia e fina, domável e adaptável às arredondadas e curvilíneas formas do corpo humano.  Os têxteis  estão sempre presentes em qualquer cultura e geografia, porque desde a mais alta antiguidade o homem necessitou de se proteger e de se vestir.



Mantas e tapetes provêm de uma remota parentela têxtil cuja múltipla função é ainda hoje detectável nos xailes, nas envoltas, nas capas e nas colchas, que têm a sua raiz no berço da civilização, a Mesopotâmia e, afinal, em todo o Médio Oriente, de que a civilização islâmica é a mais directa herdeira, na medida em que foi habitando, sempre e até hoje, os mesmos locais, manufacturando do mesmo modo e  com  idênticos  processos  manuais e artesanais esse saber milenar de fiar e de tecer, de tingir e ornamentar.

Foi preciso tempo, muito tempo, para se mostrar e se demonstrar que o crescente continuava a corresponder a um símbolo de unidade islâmica que permanece, até hoje, como uma importante raiz cultural portuguesa.


Escondida, escamoteada e rejeitada pelos fiéis defensores de uma fé, manteve-se subterrânea desde que foi oficial e manuelinamente, relegada como criminosa, desde o início do século XVI. Todavia, a envolvência muçulmana perseguiu o País, que mentiu a si próprio durante séculos, salvo algumas honrosas excepções, para se esquivar ao que lhe era natural.
Embora alguns pensadores, intelectuais e agnósticos, se afirmassem divergentes de uma ortodoxia que delineou a cronologia dos tempos ibéricos e portugueses, a plena afirmação da ancestralidade árabe nasce, ou melhor, floresce um dia em Mértola, no terceiro quartel do século XX, quando afincadamente um homem livre se apercebeu da relevância, da semelhança e do entrosamento entre o seu presente e o seu passado. Nesta vila alentejana, teima-se em afirmar, conservar e recuperar tudo o que é complementar da ascendência romana e cristã.


Relativamente ao traje, a respectiva evolução plurissecular segue os parâmetros ocidentais cristãos desde a Idade Média. Não se poderá esquecer que os pais da Pátria foram uma galega, D. Tareja, e um françês, o Conde D. Henrique. Esta origem indica, desde logo, o modo de trajar correspondente aos respectivos reinos cristãos que seguiam os padrões decorrentes de alguma evolução medieval sobre os últimos trajes romanos.
Até ao dealbar de uma frágil burguesia nos finais do século XIV, a sociedade dividia-se entre clero, nobreza e povo. O surgimento da moda ocorre, então, na corte da Borgonha e nas diversas cortes italianas do Quatrocento. A corte  de Lisboa, sobretudo a partir de D. Duarte, é fortemente influenciada pela borgonhesa, excepcionalmente ilustrada e documentada nos designados Painéis de S. Vicente, nomeadamente no painel do Infante e no painel dos cavaleiros. O traje medieval popular não distinguia, senão excepcionalmente, as vestes populares dos Portugueses, dos Espanhóis ou dos Franceses. De um modo geral, pode afirmar-se que, até à Revolução Francesa de 1789, este foi o padrão comum ao traje regional com singularidades, como por exemplo, no traje algarvio que foi seguindo formas de estar e de vestir dos mouros e sarracenos, de que adiante se tratará.


A cultura regional contém uma simbólica participada de que os indivíduos se revestem e paramentam para aderir e se dissolverem na comunidade. Há formas de vestir especiais e, muito especialmente, há formas de parecer de festa e de trabalho. Significam uma forma material de acentuar e exprimir o ritual do quotidiano e o ritual em que toda a comunidade se faz engalanar e se ornamenta em dias eleitos pela mesma comunidade.

Acontece assim, por exemplo, com o traje da mordoma do Minho e com a capa de honras de Miranda, que são emblemas culturais da região porque representativos de uma herança cultural. O traje do pastor da Serra da Estrela ou o dos pescadores da Póvoa de Varzim são, na mesma ordem de ideias, a assunção da função para que foram imaginados, o pastoreio e a pesca.

Em primeiro lugar, estas formas de vestir não são sempre populares, no sentido de serem usadas pelas camadas mais baixas da população. Parece, portanto, que a classificação de regional é a mais adequada, pois olha o traje como um dos elementos que compõem uma cultura ligada a um espaço e que reflecte uma mentalidade e uma tradição.


Todavia, há a salientar e a atender que este tipo de indumentária é usado em dois segmentos essenciais da vida em sociedade: o quotidiano e os momentos ou dias especiais, que se integram numa actividade socialmente englobante e que se designa genericamente por festa. A festa domina, contribui e exalta sentimentos de ordem vária que congregam toda uma comunidade para se expressar de uma forma única e, frequentemente, original. Ao analisar o traje regional, há que reconhecer que este é um elemento fundamental de distinção no conjunto de itens que compõem o sentido da festa, para melhor entender esta indumentária especial e, posteriormente, atender ao modo de vestir do quotidiano, liberto de excessos e de sobrecargas ornamentais.











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