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CINTRASEUPOVO
terça-feira, 13 de agosto de 2013
A HISTÓRIA DA CRIANÇA
Brincar na I República
No início do século XX as brincadeiras favoritas das crianças desenrolavam-se ao ar livre. Tanto no campo como na cidade, brincava-se fazendo diversos jogos, como o do pião, preferido pelos rapazes, os jogos de roda, os eleitos das meninas, o das escondidas, o da cabra cega ou o do pezinho. Muitas vezes imitavam-se os jogos que os adultos faziam ao Domingo, como o da malha ou até o futebol, jogado com uma bola de trapos feita pelas mães com restos de tecidos e meias rotas.
Brincava-se também com o arco e a gancheta, aproveitando os aros velhos de barris, controlados por uma gancheta de ferro, com a funda, utilizada frequentemente em competições de tiro ao alvo, com bonecas de trapos e com brinquedos em miniatura, construídos, quase sempre, pelas crianças, imitando animais, barcos e figuras humanas. No campo eram também comuns as brincadeiras com moinhos, com velas feitas a partir de caules de milho, a construção de adornos como colares, aproveitando as flores silvestres, os bugalhos e as bolotas, ou a elaboração de instrumentos musicais como flautas, a partir de canas.
Já as crianças das classes mais elevadas tinham acesso a outro tipo de brincadeiras, sobretudo após o desenvolvimento da indústria de brinquedos na segunda metade do século XIX. Desde cavalinhos de baloiço, a carrosséis de corda, a barcos com motor, carros, bonecas de porcelana ou soldadinhos de chumbo, toda uma nova variedade de brinquedos alargou a oferta e diversificou as actividades e práticas infantis. Eram brinquedos comprados pelos pais, feitos de variados materiais, como madeira, pasta de papel ou folha de estanho.
Actualmente, a criança parece se situar como um sujeito que detêm seu espaço na sociedade, um indivíduo exigente, questionador, possuidor de mercado consumidor, leis, programas televisivos e ciências dedicadas a elas. Mas, a idéia de infância é extremamente moderna.
Num percurso histórico, percebe-se que o conceito de infância vem sofrendo modificações. As crianças estão ausentes na história no período que compreende a Antiguidade até a Idade Média por não existir este objecto discursivo que chamamos ‘infância’, nem esta figura social e cultural ‘criança’.
O historiador Áries complementa:
(...) o sentimento da infância não existia - o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia.
De acordo com Áries, as crianças eram vistas nos séculos XIV, XV e XVI como um adulto em miniatura. O tratamento social dispensado a criança era igual ao de adultos, ou seja, sinônimos. Ser criança era um período breve da vida, pois logo se misturavam aos mais velhos. Elas participavam de todos os assuntos da sociedade, adquiriam o conhecimento pela convivência social.
Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda actividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos. Até porque esses grupos sociais estavam pouco claro em suas diferenciações.
Nesse aspecto, o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem consistindo em uma forma de educação da criança. A passagem pela família era rápida e insignificante. Geralmente, a partir dos sete anos, as crianças iriam viver com outra família para serem educadas. Pelos estudos de Áries, percebe-se que não havia uma educação letrada. As crianças eram entregues às famílias, muitas vezes desconhecidas ou vizinhos, para prestarem serviços domésticos ou aprenderem algum ofício. Essas aprendizagens tinham alguns intuitos. Segundo Gélis:
As aprendizagens da infância e da adolescência deviam, pois, ao mesmo tempo fortalecer o corpo, aguçar os sentidos, habitar o indivíduo a superar os revezes da sorte e principalmente a transmitir também a vida, a fim de assegurar a continuidade da família.
Conforme Áries, os pequenos entravam logo no mundo adulto e não dependiam tanto dos pais. Esses sim dependiam deles, pois quanto mais filhos, mais braços teriam para trabalhar.
Devido à situação de fome, miséria, tragédia e a falta de saneamento básico pelas quais as pessoas da Idade Média viviam, a taxa de mortalidade infantil era muito alta. A morte de uma criança não era recebida com tanto sentimento e desespero como acontece hoje. Rapidamente a tristeza passava, e aquela criança era substituída por outro recém-nascido para cumprir sua função já pré-estabelecida. Constata-se que a mortalidade infantil na Europa medieval, mesmo entre ricos e pobres, mostra o relativo descaso pelas crianças.
Verifica-se também que nas famílias pobres havia uma preocupação desde cedo para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços domésticos. “A primeira infância era época das aprendizagens”. Aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Essa realidade comprovava que não havia muito tempo por parte dos pais para dar carinho e dedicação a elas. A inquietação para ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou pedindo esmolas proporcionava tal situação.
De acordo com estudos do período e de Badinter, o amor dos pais aos filhos era selectivo. Com a regra de primogenitura, o filho mais velho teria direito de ser o único herdeiro após a morte do pai. Excluía dessa maneira os demais filhos. Os pais sempre preferiam ter filhos do sexo masculino ao invés do feminino. Não viam vantagens financeiras em ter uma filha, mas sim, preocupações, exemplo disso é o dote.
Nota-se, que apesar da idéia de criança e infância ter se transformado em nossos dias, muitas concepções descritas acima referentes ao período de transição medieval para a moderna permanecem presentes, ainda que de forma disfarçada em algumas crenças e práticas de nosso tempo.
É só a partir do século XVI que mudanças de concepções referentes à criança e a infância são notadas. Do século XVI para o XVII, na Europa, começam a perceber a criança como um ser diferente do adulto. Surge um sentimento de infância. Sentimento esse um pouco distorcido, uma vez que as crianças eram vistas como objecto lúdico dos adultos. “ Um sentimento que poderíamos chamar de ‘paparicação’”
Nesse momento que a infância estava começando a ser descoberta na Europa como uma idade específica da vida, como nos lembra Áries, pois inexistia o sentimento de infância antes da Idade Moderna, constituía a época em que estava ocorrendo à colonização do Brasil. Dessa forma, os europeus, enquanto colonizadores trouxeram seus valores, costumes, e naturalmente suas idéias referentes à infância para o Brasil. Assim, dentro dessa nova construção moderna, foram sendo soterradas concepções de criança como um adulto anão e paulatinamente foi cedendo lugar para a afirmação da infância como uma construção social.
Inserido nesse aspecto de práticas que vieram para a colônia com os colonizadores, Del Priore retrata o sentimento de paparicação na época colonial brasileira dizendo:
(...) crianças pequenas, brancas ou negras, passavam de colo em colo e eram mimadas à vontade, tratadas como pequenos brinquedos. (...) As pequenas crianças negras eram consideradas graciosas e serviam de distracção para as mulheres brancas que viviam reclusas, em uma vida monótona. Eram como que brinquedos, elas as agradavam, riam de suas cambalhotas e brincadeiras, lhes davam doces e biscoitos...
Aos poucos vai solidificando a noção de infância, e o Iluminismo na Europa inaugura a preocupação com essa questão por meio de estudos e pesquisas. Nesta direcção, era preciso formar o “novo homem”. Para Ghiraldelli a escola entra não só com o papel fundamental de simplesmente educá-las, mas libertá-las da ignorância e do caminho do mal. Esta idéia advinha do Iluminismo. Os adeptos dessa corrente de pensamento acreditavam que a razão humana deve dominar acima de tudo e de todos. Entretanto, as instituições educativas seriam responsáveis por desenvolver o potencial destes preparando-as para a vida e o trabalho. Além do que, lançavam olhares sobre a criança como um animalzinho de estimação, um ser irracional, que vivia de acordo com os pensamentos e desejos dos outros. Não conseguiam perceber nelas a capacidade de pensar, querer e sentir.
Percebe, porém, que a educação escolar não era entendida da mesma forma e aplicada com a mesma qualidade para todas as camadas sociais durante o período moderno. Os filhos dos burgueses eram preparados para ocupar os altos cargos. Os filhos de famílias pobres muitas vezes não chegavam a ir para escola, e quando a frequentavam eram treinados para os trabalhos secundários como de carpinteiros, pedreiros ou agrícolas.
Segundo Ariès, as classes populares européias continuaram tendo por muito tempo, a idéia de uma infância curta e fundida com os adultos. Del Priore mostra que, no Brasil colonial a partir dos sete anos, os filhos de senhores iam estudar e dos pobres e escravos trabalhar.
Segundo as teorias religiosas, as crianças nasciam do pecado e eram símbolos da força do mal. Ghiraldelli afirma que essa idéia foi difundida desde Santo Agostinho. “ Como se sabe, Santo Agostinho viu a criança imersa no pecado, na medida em que, não possuindo linguagem (“infante”: o que não fala – portanto, aquele que não possui logos), mostrar-se-ia desprovida de razão,...”
Os intelectuais e pensadores da modernidade adeptos desse pensamento acreditavam que a escola tinha o objectivo de corrigir as crianças que viviam em constante estado de pecado, ou seja, gulosas, preguiçosas, indóceis, desobedientes, briguentas e faladoras. Nessa perspectiva, as crianças eram vistas como um material a ser moldado. Era como se a infância fosse uma coisa tenebrosaque precisava ser apagada. Badinter explana as idéias desses pensadores:
É preciso, portanto, livrar-se da infância como de um mal. O fato de todo homem ter sido antes necessariamente criança é que constitui a causa de seus erros. A criança não só é desprovida de discernimento, não só é dirigida pelas sensações, como, além disso, é banhada pela atmosfera fétida das falsas opiniões. (...) A desgraça é que as opiniões adquiridas na infância são as que marcam mais profundamente o homem.
Ghiraldelli discute dois outros aspectos referentes à criança e à infância ligados à idéia de natureza infantil. Um desses aspectos está relacionado ao pensamento de Rousseau que vê a infância como uma época de pureza, inocência e acolhimento da verdade. O segundo aspecto é a concepção de Nabokov que, ao contrário de Rosseau, não vê bondade, nem menos pureza e inocência nesse período da vida, e sim maldade.
Badinter mostra que a imagem funesta que alguns iluministas tinham sobre a criança não atingia todos os níveis sociais. Para a autora, “(...) a criança é considerada mais como um estorvo, ou mesmo como uma desgraça, do que como o mal ou pecado”.
A autora mostra que, para muitos pais, os filhos eram obstáculos que atrapalhavam sua vida social, emocional, conjugal e económica. Nas famílias menos abastadas o factor que mais influenciava era o económico. Este é um dos motivos pelos quais muitas crianças foram abandonadas num orfanato, entregues a uma ama-de-leite, ou sofreram de infanticídio. “O filho chega a ser uma ameaça à própria sobrevivência dos pais. Não lhes resta, portanto, outra escolha senão livrarem-se dele”.
No século XVII, na Europa, constata-se que, enquanto bebê, caso a criança não passasse pelas situações descritas acima, elas eram abandonadas ou mortas, no decorrer da segunda para a terceira fase da infância (dos 4 aos 7 anos de idade). Essas crianças eram isoladas do mundo adulto, nos conventos e internatos. “ Era no convento que a moça esperava o marido ” que pudesse retirá-la deste lugar e os meninos para os colégios internatos. A escola substitui, então, a aprendizagem familiar e passa a funcionar como um processo de enclausuramento da criança.
Essa discussão é interessante porque possibilita a percepção em relação às mudanças históricas em torno da infância. Enquanto na Idade Média, as crianças aprendiam tudo através das relações diárias com os mais velhos, no princípio da Idade Moderna começa a existir uma segregação dessa criança havendo, inclusive ambientes diferentes, ou seja, aqueles destinados aos adultos e outros às crianças. Essa concepção da Idade Moderna remete a questão que, para se ter uma boa educação, as crianças precisavam afastar-se do convívio social do qual não pertenciam, o mundo dos adultos.
Com base em Ariés , verifica-se que, no período medieval, na maioria das famílias, as casas eram verdadeiros centros de crianças. A família era extensa, formada muitas vezes por tios, tias, avós ou primos, todos vivendo sobre o mesmo teto. A economia era baseada na agricultura onde todos trabalhavam juntos para um bem-comum. Depois da Revolução Industrial , na Idade Moderna, as famílias tinham cada vez menos filhos, tornando-se menores e mais móveis e constituindo o modelo familiar do padrão moderno . Antes da Revolução Industrial, a família era enraizada no solo, depois dela, a produção económica deslocou-se do campo para fábrica, que ficava na zona urbana. Diante dessa nova realidade as crianças também deveriam ser preparadas para a vida fabril localizada na cidade.
A partir do século XVIII, a educação dos filhos era entregue as escolas. Um meio encontrado para poupar o tempo dos pais, que agora vendem sua força de trabalho para os donos das indústrias. “ As mulheres que trabalhavam em fábricas colocavam os filhos em casa de amas durante o dia, mas iam buscá-lo á noite, ao que parece” . Portanto, a industrialização justifica a criação de instituições de cuidado, guarda e abrigo para acolher filhos de mulheres trabalhadoras.
Com o advento da Revolução Industrial, que trouxe consigo máquinas e o processo de industrialização, a família perdeu uma de suas funções e, através de muitas reivindicações, a escola se estendeu a todas as camadas sociais, com a missão de educar para o trabalho as crianças, impondo sobre elas uma mentalidade de obediência e disciplina.
Nas fábricas, além da inserção do trabalho da mulher constata-se a presença de crianças que representava mãos-de-obra baratas, disciplinadas e com baixo poder reivindicatório. Nos tempos modernos, a escola torna-se uma instituição de fato enquanto espaço reservado à protecção das crianças. “O grande acontecimento foi, portanto o reaparecimento nos tempos modernos da preocupação com a educação”.
As actividades de trabalho infantil, que sempre estiveram presentes na sociedade européia, sejam elas domésticas ou agrícolas, continuaram acontecendo depois da Revolução Industrial, mas a escola acabou escondendo-o essa prática pelas crianças. Essas mudanças na concepção de infância, escola e família estavam relacionadas a uma cristianização profunda dos costumes e dos valores dando inicio ao processo de construção do indivíduo moderno. Como nos relata Gélis:
Num clima de crescente individualismo, disposto a favorecer o desenvolvimento da criança e encorajado pela Igreja e pelo Estado, o casal [pai e mãe] delegou uma parte de seus poderes e de suas responsabilidades ao educador. Ao modelo rural sucedeu um modelo urbano, o desejo de ter filho não para assegurar a continuidade do ciclo, mas simplesmente para amá-los e ser amado por eles.
Nos oitocentos, o conceito de criança como um ser singular e particular está mais firme. Segundo Del Priore, “(...) já nas primeiras décadas do século XIX, que os dicionários assumiram o uso reservado da palavra ‘criança’ para a espécie humana”. Assim, as crianças tornam-se o centro das atenções e passam a serem tema e possibilidades de estudos e observações. Desta forma, e aos poucos, começando pela Europa, a criança vai assumindo identidade, voz e estatuto legal.
De acordo com Del Priore surge a partir de então, também a preocupação com a higiene e a saúde da criança. No Brasil, verifica-se esta inquietação acerca dessas atitudes, após a chegada da corte portuguesa ao país em 1808. O maior cuidado com a higiene fez com que as crianças tivessem maior chance de sobreviver. Consequentemente, sua morte passa a ser vivida como um drama. “ Essa vontade de salvar a criança só aumenta ao longo do século XVII....”. A família moderna, então, preocupada com o futuro dos seus filhos, tentará limitar sua fecundidade.
Essa mudança também pôde ser percebida na inclusão de trajes próprios às crianças, assim como ciências e personagens aparecem no universo infantil, dentre eles, a psicologia, pediatria, pedagogo, professor, assistente social, juiz de menores, tornando, dessa forma, a infância uma categoria particular. Essa nova percepção em relação à criança, considerando sua individualidade, “ ocorre simultaneamente às mudanças culturais associadas à emergência de uma vida urbana mais intensa” na Europa.
De acordo com Badinter, ocorre uma progressiva valorização do lugar ocupado pela criança tornando o filho, no decorrer do século XIX, o centro da família. Ele passa a ser objecto de investimentos económicos, educacionais e afectivos. “Tudo o que se referia às crianças e a família tornara um assunto sério e digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas também sua simples presença e existência eram dignas de preocupação”. A partir do século XIX, o Estado quis melhorar a vivência da criança. Para fundamentar essa idéia, apontamos Badinter:
No século XIX, o Estado, que se interessa cada vez mais pela criança, vítima, delinquente ou simplesmente carente, adquire o habito de vigiar o pai. A cada carência paterna devidamente contactada, o Estado se propõe substituir o faltoso, criando novas instituições. (...) É verdade, não obstante, que a política de assumir e proteger a infância traduziu-se não apenas numa vigilância cada vez mais estreita da família, mas também na substituição do patriarcado familiar por um “ patriarcado de Estado.”
Então, para a nova sociedade que surgia impulsionada pelo capitalismo industrial e o liberalismo imbuído de suas consequências proporcionaram a ocorrência de transformações que influenciaram a vida das crianças. “A infância passa, então, a se situar numa nova efectividade social enquanto consumidor” . O mesmo aconteceu em relação ao desenvolvimento tecnológico, mas nítido a partir do século XX, colocando a infância ligada ao económico. Utilizando a criança como um incremento no trabalho infantil, na publicidade, ou ainda, no consumo. Nesse novo contexto social, político, económico, enfim, todas as dimensões em que se insere o homem, surgem um variado mercado de produtos para a infância como programas de televisão, desenhos animados, jogos, roupas, alimentos, brinquedos e outros.
Embora tenham surgido leis desde XIX na Europa para a protecção da criança, até hoje nem todas elas têm seus direitos assegurados. Em 1959, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos da Criança , sendo que o Princípio 1 reza:
Todas as crianças, absolutamente sem qualquer excepção, será credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família.
E mais recentemente, como fruto da constituição brasileira de 1988 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente quando pela primeira vez no Brasil, a criança é considerada um sujeito de direito. Direitos esses que, muitas vezes não são respeitados conforme se constata a todo o momento na mídia. Diante dessa discussão também não se pode esquecer que existem muitas infâncias dentro da infância global. Verifica-se que, nem todas as crianças vivem a infância da mesma forma em relação às condições sociais, culturais e econômicas.
As contradições e desigualdades constituem o “ outro lado da condição social da infância contemporânea”. Na sociedade globalizada, as crianças são vítimas da fome, inúmeras doenças, maus-tratos, abusos psicológicos, pedofilia, pobreza, exclusão, tráfico para prostituição infantil ou pornografias.
Enfim, através deste pequeno recorte histórico percebe-se que a infância e a criança foram sendo construídas e pensadas pelos homens de acordo com as necessidades sociais de cada momento histórico. Portanto, a infância é uma construção cultural da sociedade que está sujeita as mudanças sempre que ocorrem importantes transformações sociais. Rompendo com a idéia de natureza infantil, a criança e a infância começam a ser enxergadas como categorias históricas e culturais ligadas ao contexto histórico-social em que se inserem e participando activamente na construção de sua própria história.
Actualmente, a criança parece se situar como um sujeito que detêm seu espaço na sociedade, um indivíduo exigente, questionador, possuidor de mercado consumidor, leis, programas televisivos e ciências dedicadas a elas. Mas, a idéia de infância é extremamente moderna.
Num percurso histórico, percebe-se que o conceito de infância vem sofrendo modificações. As crianças estão ausentes na história no período que compreende a Antiguidade até a Idade Média por não existir este objecto discursivo que chamamos ‘infância’, nem esta figura social e cultural ‘criança’.
O historiador Áries complementa:
(...) o sentimento da infância não existia - o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia.
De acordo com Áries, as crianças eram vistas nos séculos XIV, XV e XVI como um adulto em miniatura. O tratamento social dispensado a criança era igual ao de adultos, ou seja, sinônimos. Ser criança era um período breve da vida, pois logo se misturavam aos mais velhos. Elas participavam de todos os assuntos da sociedade, adquiriam o conhecimento pela convivência social.
Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda actividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos. Até porque esses grupos sociais estavam pouco claro em suas diferenciações.
Nesse aspecto, o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem consistindo em uma forma de educação da criança. A passagem pela família era rápida e insignificante. Geralmente, a partir dos sete anos, as crianças iriam viver com outra família para serem educadas. Pelos estudos de Áries, percebe-se que não havia uma educação letrada. As crianças eram entregues às famílias, muitas vezes desconhecidas ou vizinhos, para prestarem serviços domésticos ou aprenderem algum ofício. Essas aprendizagens tinham alguns intuitos. Segundo Gélis:
As aprendizagens da infância e da adolescência deviam, pois, ao mesmo tempo fortalecer o corpo, aguçar os sentidos, habitar o indivíduo a superar os revezes da sorte e principalmente a transmitir também a vida, a fim de assegurar a continuidade da família.
Conforme Áries, os pequenos entravam logo no mundo adulto e não dependiam tanto dos pais. Esses sim dependiam deles, pois quanto mais filhos, mais braços teriam para trabalhar.
Devido à situação de fome, miséria, tragédia e a falta de saneamento básico pelas quais as pessoas da Idade Média viviam, a taxa de mortalidade infantil era muito alta. A morte de uma criança não era recebida com tanto sentimento e desespero como acontece hoje. Rapidamente a tristeza passava, e aquela criança era substituída por outro recém-nascido para cumprir sua função já pré-estabelecida. Constata-se que a mortalidade infantil na Europa medieval, mesmo entre ricos e pobres, mostra o relativo descaso pelas crianças.
Verifica-se também que nas famílias pobres havia uma preocupação desde cedo para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços domésticos. “A primeira infância era época das aprendizagens”. Aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Essa realidade comprovava que não havia muito tempo por parte dos pais para dar carinho e dedicação a elas. A inquietação para ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou pedindo esmolas proporcionava tal situação.
De acordo com estudos do período e de Badinter, o amor dos pais aos filhos era selectivo. Com a regra de primogenitura, o filho mais velho teria direito de ser o único herdeiro após a morte do pai. Excluía dessa maneira os demais filhos. Os pais sempre preferiam ter filhos do sexo masculino ao invés do feminino. Não viam vantagens financeiras em ter uma filha, mas sim, preocupações, exemplo disso é o dote.
Nota-se, que apesar da idéia de criança e infância ter se transformado em nossos dias, muitas concepções descritas acima referentes ao período de transição medieval para a moderna permanecem presentes, ainda que de forma disfarçada em algumas crenças e práticas de nosso tempo.
É só a partir do século XVI que mudanças de concepções referentes à criança e a infância são notadas. Do século XVI para o XVII, na Europa, começam a perceber a criança como um ser diferente do adulto. Surge um sentimento de infância. Sentimento esse um pouco distorcido, uma vez que as crianças eram vistas como objecto lúdico dos adultos. “ Um sentimento que poderíamos chamar de ‘paparicação’”
Nesse momento que a infância estava começando a ser descoberta na Europa como uma idade específica da vida, como nos lembra Áries, pois inexistia o sentimento de infância antes da Idade Moderna, constituía a época em que estava ocorrendo à colonização do Brasil. Dessa forma, os europeus, enquanto colonizadores trouxeram seus valores, costumes, e naturalmente suas idéias referentes à infância para o Brasil. Assim, dentro dessa nova construção moderna, foram sendo soterradas concepções de criança como um adulto anão e paulatinamente foi cedendo lugar para a afirmação da infância como uma construção social.
Inserido nesse aspecto de práticas que vieram para a colônia com os colonizadores, Del Priore retrata o sentimento de paparicação na época colonial brasileira dizendo:
(...) crianças pequenas, brancas ou negras, passavam de colo em colo e eram mimadas à vontade, tratadas como pequenos brinquedos. (...) As pequenas crianças negras eram consideradas graciosas e serviam de distracção para as mulheres brancas que viviam reclusas, em uma vida monótona. Eram como que brinquedos, elas as agradavam, riam de suas cambalhotas e brincadeiras, lhes davam doces e biscoitos...
Aos poucos vai solidificando a noção de infância, e o Iluminismo na Europa inaugura a preocupação com essa questão por meio de estudos e pesquisas. Nesta direcção, era preciso formar o “novo homem”. Para Ghiraldelli a escola entra não só com o papel fundamental de simplesmente educá-las, mas libertá-las da ignorância e do caminho do mal. Esta idéia advinha do Iluminismo. Os adeptos dessa corrente de pensamento acreditavam que a razão humana deve dominar acima de tudo e de todos. Entretanto, as instituições educativas seriam responsáveis por desenvolver o potencial destes preparando-as para a vida e o trabalho. Além do que, lançavam olhares sobre a criança como um animalzinho de estimação, um ser irracional, que vivia de acordo com os pensamentos e desejos dos outros. Não conseguiam perceber nelas a capacidade de pensar, querer e sentir.
Percebe, porém, que a educação escolar não era entendida da mesma forma e aplicada com a mesma qualidade para todas as camadas sociais durante o período moderno. Os filhos dos burgueses eram preparados para ocupar os altos cargos. Os filhos de famílias pobres muitas vezes não chegavam a ir para escola, e quando a frequentavam eram treinados para os trabalhos secundários como de carpinteiros, pedreiros ou agrícolas.
Segundo Ariès, as classes populares européias continuaram tendo por muito tempo, a idéia de uma infância curta e fundida com os adultos. Del Priore mostra que, no Brasil colonial a partir dos sete anos, os filhos de senhores iam estudar e dos pobres e escravos trabalhar.
Segundo as teorias religiosas, as crianças nasciam do pecado e eram símbolos da força do mal. Ghiraldelli afirma que essa idéia foi difundida desde Santo Agostinho. “ Como se sabe, Santo Agostinho viu a criança imersa no pecado, na medida em que, não possuindo linguagem (“infante”: o que não fala – portanto, aquele que não possui logos), mostrar-se-ia desprovida de razão,...”
Os intelectuais e pensadores da modernidade adeptos desse pensamento acreditavam que a escola tinha o objectivo de corrigir as crianças que viviam em constante estado de pecado, ou seja, gulosas, preguiçosas, indóceis, desobedientes, briguentas e faladoras. Nessa perspectiva, as crianças eram vistas como um material a ser moldado. Era como se a infância fosse uma coisa tenebrosaque precisava ser apagada. Badinter explana as idéias desses pensadores:
É preciso, portanto, livrar-se da infância como de um mal. O fato de todo homem ter sido antes necessariamente criança é que constitui a causa de seus erros. A criança não só é desprovida de discernimento, não só é dirigida pelas sensações, como, além disso, é banhada pela atmosfera fétida das falsas opiniões. (...) A desgraça é que as opiniões adquiridas na infância são as que marcam mais profundamente o homem.
Ghiraldelli discute dois outros aspectos referentes à criança e à infância ligados à idéia de natureza infantil. Um desses aspectos está relacionado ao pensamento de Rousseau que vê a infância como uma época de pureza, inocência e acolhimento da verdade. O segundo aspecto é a concepção de Nabokov que, ao contrário de Rosseau, não vê bondade, nem menos pureza e inocência nesse período da vida, e sim maldade.
Badinter mostra que a imagem funesta que alguns iluministas tinham sobre a criança não atingia todos os níveis sociais. Para a autora, “(...) a criança é considerada mais como um estorvo, ou mesmo como uma desgraça, do que como o mal ou pecado”.
A autora mostra que, para muitos pais, os filhos eram obstáculos que atrapalhavam sua vida social, emocional, conjugal e económica. Nas famílias menos abastadas o factor que mais influenciava era o económico. Este é um dos motivos pelos quais muitas crianças foram abandonadas num orfanato, entregues a uma ama-de-leite, ou sofreram de infanticídio. “O filho chega a ser uma ameaça à própria sobrevivência dos pais. Não lhes resta, portanto, outra escolha senão livrarem-se dele”.
No século XVII, na Europa, constata-se que, enquanto bebê, caso a criança não passasse pelas situações descritas acima, elas eram abandonadas ou mortas, no decorrer da segunda para a terceira fase da infância (dos 4 aos 7 anos de idade). Essas crianças eram isoladas do mundo adulto, nos conventos e internatos. “ Era no convento que a moça esperava o marido ” que pudesse retirá-la deste lugar e os meninos para os colégios internatos. A escola substitui, então, a aprendizagem familiar e passa a funcionar como um processo de enclausuramento da criança.
Essa discussão é interessante porque possibilita a percepção em relação às mudanças históricas em torno da infância. Enquanto na Idade Média, as crianças aprendiam tudo através das relações diárias com os mais velhos, no princípio da Idade Moderna começa a existir uma segregação dessa criança havendo, inclusive ambientes diferentes, ou seja, aqueles destinados aos adultos e outros às crianças. Essa concepção da Idade Moderna remete a questão que, para se ter uma boa educação, as crianças precisavam afastar-se do convívio social do qual não pertenciam, o mundo dos adultos.
Com base em Ariés , verifica-se que, no período medieval, na maioria das famílias, as casas eram verdadeiros centros de crianças. A família era extensa, formada muitas vezes por tios, tias, avós ou primos, todos vivendo sobre o mesmo teto. A economia era baseada na agricultura onde todos trabalhavam juntos para um bem-comum. Depois da Revolução Industrial , na Idade Moderna, as famílias tinham cada vez menos filhos, tornando-se menores e mais móveis e constituindo o modelo familiar do padrão moderno . Antes da Revolução Industrial, a família era enraizada no solo, depois dela, a produção económica deslocou-se do campo para fábrica, que ficava na zona urbana. Diante dessa nova realidade as crianças também deveriam ser preparadas para a vida fabril localizada na cidade.
A partir do século XVIII, a educação dos filhos era entregue as escolas. Um meio encontrado para poupar o tempo dos pais, que agora vendem sua força de trabalho para os donos das indústrias. “ As mulheres que trabalhavam em fábricas colocavam os filhos em casa de amas durante o dia, mas iam buscá-lo á noite, ao que parece” . Portanto, a industrialização justifica a criação de instituições de cuidado, guarda e abrigo para acolher filhos de mulheres trabalhadoras.
Com o advento da Revolução Industrial, que trouxe consigo máquinas e o processo de industrialização, a família perdeu uma de suas funções e, através de muitas reivindicações, a escola se estendeu a todas as camadas sociais, com a missão de educar para o trabalho as crianças, impondo sobre elas uma mentalidade de obediência e disciplina.
Nas fábricas, além da inserção do trabalho da mulher constata-se a presença de crianças que representava mãos-de-obra baratas, disciplinadas e com baixo poder reivindicatório. Nos tempos modernos, a escola torna-se uma instituição de fato enquanto espaço reservado à protecção das crianças. “O grande acontecimento foi, portanto o reaparecimento nos tempos modernos da preocupação com a educação”.
As actividades de trabalho infantil, que sempre estiveram presentes na sociedade européia, sejam elas domésticas ou agrícolas, continuaram acontecendo depois da Revolução Industrial, mas a escola acabou escondendo-o essa prática pelas crianças. Essas mudanças na concepção de infância, escola e família estavam relacionadas a uma cristianização profunda dos costumes e dos valores dando inicio ao processo de construção do indivíduo moderno. Como nos relata Gélis:
Num clima de crescente individualismo, disposto a favorecer o desenvolvimento da criança e encorajado pela Igreja e pelo Estado, o casal [pai e mãe] delegou uma parte de seus poderes e de suas responsabilidades ao educador. Ao modelo rural sucedeu um modelo urbano, o desejo de ter filho não para assegurar a continuidade do ciclo, mas simplesmente para amá-los e ser amado por eles.
Nos oitocentos, o conceito de criança como um ser singular e particular está mais firme. Segundo Del Priore, “(...) já nas primeiras décadas do século XIX, que os dicionários assumiram o uso reservado da palavra ‘criança’ para a espécie humana”. Assim, as crianças tornam-se o centro das atenções e passam a serem tema e possibilidades de estudos e observações. Desta forma, e aos poucos, começando pela Europa, a criança vai assumindo identidade, voz e estatuto legal.
De acordo com Del Priore surge a partir de então, também a preocupação com a higiene e a saúde da criança. No Brasil, verifica-se esta inquietação acerca dessas atitudes, após a chegada da corte portuguesa ao país em 1808. O maior cuidado com a higiene fez com que as crianças tivessem maior chance de sobreviver. Consequentemente, sua morte passa a ser vivida como um drama. “ Essa vontade de salvar a criança só aumenta ao longo do século XVII....”. A família moderna, então, preocupada com o futuro dos seus filhos, tentará limitar sua fecundidade.
Essa mudança também pôde ser percebida na inclusão de trajes próprios às crianças, assim como ciências e personagens aparecem no universo infantil, dentre eles, a psicologia, pediatria, pedagogo, professor, assistente social, juiz de menores, tornando, dessa forma, a infância uma categoria particular. Essa nova percepção em relação à criança, considerando sua individualidade, “ ocorre simultaneamente às mudanças culturais associadas à emergência de uma vida urbana mais intensa” na Europa.
De acordo com Badinter, ocorre uma progressiva valorização do lugar ocupado pela criança tornando o filho, no decorrer do século XIX, o centro da família. Ele passa a ser objecto de investimentos económicos, educacionais e afectivos. “Tudo o que se referia às crianças e a família tornara um assunto sério e digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas também sua simples presença e existência eram dignas de preocupação”. A partir do século XIX, o Estado quis melhorar a vivência da criança. Para fundamentar essa idéia, apontamos Badinter:
No século XIX, o Estado, que se interessa cada vez mais pela criança, vítima, delinquente ou simplesmente carente, adquire o habito de vigiar o pai. A cada carência paterna devidamente contactada, o Estado se propõe substituir o faltoso, criando novas instituições. (...) É verdade, não obstante, que a política de assumir e proteger a infância traduziu-se não apenas numa vigilância cada vez mais estreita da família, mas também na substituição do patriarcado familiar por um “ patriarcado de Estado.”
Então, para a nova sociedade que surgia impulsionada pelo capitalismo industrial e o liberalismo imbuído de suas consequências proporcionaram a ocorrência de transformações que influenciaram a vida das crianças. “A infância passa, então, a se situar numa nova efectividade social enquanto consumidor” . O mesmo aconteceu em relação ao desenvolvimento tecnológico, mas nítido a partir do século XX, colocando a infância ligada ao económico. Utilizando a criança como um incremento no trabalho infantil, na publicidade, ou ainda, no consumo. Nesse novo contexto social, político, económico, enfim, todas as dimensões em que se insere o homem, surgem um variado mercado de produtos para a infância como programas de televisão, desenhos animados, jogos, roupas, alimentos, brinquedos e outros.
Embora tenham surgido leis desde XIX na Europa para a protecção da criança, até hoje nem todas elas têm seus direitos assegurados. Em 1959, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos da Criança , sendo que o Princípio 1 reza:
Todas as crianças, absolutamente sem qualquer excepção, será credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família.
E mais recentemente, como fruto da constituição brasileira de 1988 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente quando pela primeira vez no Brasil, a criança é considerada um sujeito de direito. Direitos esses que, muitas vezes não são respeitados conforme se constata a todo o momento na mídia. Diante dessa discussão também não se pode esquecer que existem muitas infâncias dentro da infância global. Verifica-se que, nem todas as crianças vivem a infância da mesma forma em relação às condições sociais, culturais e econômicas.
As contradições e desigualdades constituem o “ outro lado da condição social da infância contemporânea”. Na sociedade globalizada, as crianças são vítimas da fome, inúmeras doenças, maus-tratos, abusos psicológicos, pedofilia, pobreza, exclusão, tráfico para prostituição infantil ou pornografias.
Enfim, através deste pequeno recorte histórico percebe-se que a infância e a criança foram sendo construídas e pensadas pelos homens de acordo com as necessidades sociais de cada momento histórico. Portanto, a infância é uma construção cultural da sociedade que está sujeita as mudanças sempre que ocorrem importantes transformações sociais. Rompendo com a idéia de natureza infantil, a criança e a infância começam a ser enxergadas como categorias históricas e culturais ligadas ao contexto histórico-social em que se inserem e participando activamente na construção de sua própria história.
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